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Dersu Uzalá (Sambado 3)


Meu terceiro sambado (leia a letra da música que inspirou esta série abaixo) era um Niva vinho. Niva? Calma! Você sabe o que é, sim: aquele jipão da Lada. Era o único carro da marca que prestava. Dei-lhe o nome de Dersu Uzalá, por ser russo e por causa do filme.

Dersu me livrou de muitos engarrafamentos, levando-me em segurança pelo mato por onde eu cortava caminho, inclusive sob chuvas torrenciais. Não raras vezes vi ficarem para trás, atolados, carros de passeio que tentaram seguir-me. Gostei de ter um jipão e, recentemente andei cogitando comprar outro. Inviável! O jipinho ganhou ares de objeto de colecionador, com direito a Niva Club, site na internet e preço de figurinha premiada.

Mas, infiel, além de ter conquistado meu coração, o russinho era chegado num chamego com os baianos da única concessionária Lada de Brasília e vez por outra ia parar lá para uns dias de folga à espera de peças que, pelo tempo que demoravam para chegar, acredito estarem sendo encomendadas não à URSS, mas a uma de suas estações espaciais, a anos luz daqui.

De todos os muitos defeitos do Dersu, o maior era sua índole suicida/homicida. Ele tinha um incorrigível desvio na direção e jogava para a esquerda sempre que se acionava o freio com força. Uma vez, entrando no Buraco do Tatu, fui fechada por um domingueiro desses que muda de faixa sem olhar pelo retrovisor e tive que frear bruscamente. O danado do Niva jogou-se inteiro na contramão, comigo dentro. Por muito pouco não batemos de frente com o carro que vinha em sentido contrário.

Disposta a viver mais alguns anos e ciente de que Brasília tem muita gente que não sabe porque chamam de retrovisor àquele espelhinho que a gente usa para se pentear dentro do carro, vendi o Dersu.

Atualmente, tenho um Ka. Nem nome dei para o coitado, tão magoada fiquei depois que a fada má da construção transformou em areia, cimento e tijolo o meu penúltimo carro, um Astra 2000 branco, adquirido zero, zerinho, cheirando a novo. Este sim, ganhou nome, sobrenome e apelido. Adriano Astralgésilo de Medeiros, vulgo Drico.
Quando liguei para pedir detalhes sobre o Ka, perguntei se havia algum defeito que eu precisava saber de antemão. O vendedor respondeu, bem humorado:
- Tem. Ele é mil!
O problema não é só a baixa cilindrada. Isso é mesmo um pé no saco, mas, como sou um pé de chumbo, acabo compensando. Pior mesmo é o fato do ar-condicionado e direção hidráulica não serem originais de fábrica e estarem sempre dando uns piripaques. Eles tornam o carrinho um bebedor e reduzem quase a zero a já ínfima potência do motor. Sempre que está calor e tenho carona, pergunto:
- Tá com calor ou com pressa?
Assim como o carro do Vander Lee, o meu também molha meus pés ao passar sobre poças d'água.

Não posso reclamar muito. Um colega teve uma Brasília Aquário. Na temporada de chuvas da Capital Federal, que dura longos e tenebrosos seis meses, o carro dele acumulava água até a altura do nível das portas. Dirigia-se com os calcanhares nos pedais, para não molhar os pés. Manobra inócua, pois ao frear, a água acumulada na parte traseira era lançada para frente e voltava, em ondas, molhando o motorista e seu passageiro até os joelhos.

Minha cunhada tinha um Fiat 147i. Isso mesmo, não foi erro de digitação, era um Fiat 147 "i", não de injeção eletrônica, mas de Impulse. O carro, à álcool, só pegava pela manhã se ela lançasse, com um spray de desodorante, um pouco de gasolina no carburador, já que a injeção automática não funcionava. Ao comprar o carro, o frasquinho de Impulse já estava lá sob o capô, mas ninguém teve idéia de perguntar pra quê.

E você aí que está rindo tanto?
É das histórias contadas ou da lembrança dos sambados que já teve?
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Sambado
(Vander Lee)

"Meu carro é uma escola de samba
Tá todo sambado na passarela
Batendo tudo na descida
Subindo a avenida, batendo biela
Na hora de dar a partida
É preciso torcida, é aquela novela
Se não dá defeito na bomba,
É no cabo, no pino ou na pratinela
A alegoria já não anda nota dez
Sempre que passo numa poça molho os pés
A bateria anda sem forças pra levar
Mas é nas curvas que o danado
Mostra que sabe sambar
Anda esquisito no quesito evolução
Só de ano em ano é que sai do barracão
Nosso desfile pode não ser campeão
Mas quando caio no samba ele nunca
Me deixa na mão"
Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 06/05/2008
Alterado em 04/10/2010


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