O Acampamento GayEla desligou o telefone frustrada. Como ir a Olhos D'Água para a Feira da Troca sem o carro, hospitalizado sem chances de alta antes da quarta-feira seguinte? O namorado iria direto de Goiânia, só esperava sua confirmação para comprar a passagem. Queria ir à feira, que só ocorre duas vezes por ano e, nunca conseguia ir. Sempre acontecia alguma coisa para impedi-la. O colega, sentado ao lado ouviu toda a conversa e ofereceu:
- Se você quiser ir conosco, a Gaiola parte hoje, 17 horas. Tem lugar no meu carro.
Gaiola, em referência ao filme Gaiola das Loucas era como Sérgio, gay assumido, chamava seu grupo de amigos mais chegados. Todos igualmente homossexuais. Ela não pensou duas vezes. Combinou os detalhes e ligou novamente para o namorado, para que comprasse as passagens. Na hora do almoço conseguiu uma carona até em casa, para ajeitar a barraca e bagagem e, ao final do expediente estava prontinha para embarcar.
Eram três carros. Doze "homens", alguns mais efeminados, outros menos. Ela não se importava com isso. Já havia saído com Sérgio e alguns deles antes. Um alegre grupo de solteiras. Assim que chegaram à cidadezinha, foram passear pelas redondezas, nadaram no Rio Ganhas até escurecer. Depois, um lanche na birosquinha mais próxima à área de camping e foram armar as barracas. Um dos rapazes, Evandro, veio ajudá-la solícito.
Tocaram violão e cantaram em volta da fogueira até tarde, beberam um pouco e na hora de se recolherem, Evandro aproximou-se e perguntou se podia passar a noite com ela, já que o namorado dela só chegaria no dia seguinte e ele preferia não dormir no carro duas noites seguidas. Como não havia mesmo espaço para ele nas outras barracas, ela assentiu.
Nem bem deitaram, porém, o outro começou a bolinação e encostou-se nela numa "paudurescência" de fazer inveja a muito ator pornô. Ela levantou-se, de um salto e perguntou:
- Alto lá!! O que você pensa que está fazendo?
- Ah! Só um chameguinho... - respondeu ele, dissimulado.
- Mas... você não é gay?
- Eu?? De onde você tirou essa idéia?
Ela abriu a barraca e mostrou as outras tendas em volta da fogueira. As que não eram cor de rosa, tinham flores desenhadas, laçarotes enfeitando a entrada. Apontou, como argumento final, o fusquinha lilás de Alcídes, estacionado ali perto.
- Ah! Mas eu só tô de carona, igual a você... Deita aqui, vem. - ainda insistiu ele.
- Sérgioooo! - Chamou ela.
O amigo botou a cara pra fora da barraca.
- Arruma um lugar pra esse daqui, vai?
- Achei que você tinha gostado dele...
- É! Mas rolou incompatibilidade de gostos.
Fizeram a troca, Evandro foi dormir com outros três rapazes, enquanto um deles veio dividir a barraca com ela, este sim, homossexual até o último fio de cabelo muito curto, espetado e cuidadosamente tingido de louro claríssimo.
No dia seguinte, Evandro sumiu. Disseram que ele foi cedo para a rodoviária, procurar passagem de volta para Brasília. Não se sabe o que houve entre ele e as "moças" da barraca que ocupou, mas elas estavam ainda mais alegres do que costumavam ser.
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daqui.