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Depilação e Outras Torturas


Mulher é bicho besta, mesmo, né? Para ficar mais elegante, bonita e atraente para seu homem e, se possível, para os homens em geral, faz qualquer negócio.
E, quando digo qualquer negócio, estou me referindo a investimento financeiro, perda de tempo e, muitas das vezes, sofrimento. Muito sofrimento.
Se a coisa evoluiu por um lado, pois agora já não usamos mais espartilhos, daqueles, que fazem a coitada desmaiar por afasia, por outro, os tratamentos que prometem verdadeiros milagres em busca de resultados gloriosos multiplicam-se a cada dia.
Eu me confesso uma completa ignorante da maioria deles. Recentemente tive contato com uma lista, enviada por uma colega, com nada menos do que dez tratamentos de beleza. Massoterapia, peeling de cristal, laser... e por aí vai. Acho que se eu conseguisse ao menos aprender para o quê cada um serve, talvez ficasse mesmo mais bonita.
Eu sou quase um homem: só comecei a usar brinco aos dezesseis anos de idade, carregada por uma amiga, quase à força. Não era medo da dor. Aliás, tenho uma resistência quase de mutante à dor. Sou do tipo que prefere encarar a broca do dentista sem anestesia à ficar com a boca toda torta por algumas horas.
Era só uma questão de prioridade, ou melhor, de falta de prioridade. Furar as orelhas, na minha escala de coisas importantes a fazer antes dos dezoito anos, ocupava um vergonhoso vigésimo quinto lugar, depois de coisas curiosas como comprar um telefone em formato de hamburguer ou importantes como passar no vestibular e conseguir um estágio para bancar a faculdade.

Também não tenho a menor intimidade com outros artifícios femininos como maquiagem, escovas, chapinhas, balaiage, manicure e pedicure. Passo um batonzinho para disfarçar os bicos brancos e só faço as unhas uma vez a cada duas semanas porque elas são quebradiças e com tendência a encravar, senão, acho que nem isso. Daqui a pouco vou ter que aloirar... Os cabelos brancos estão se multiplicando a uma velocidade inacreditável. Mas, estou adiando este momento ao máximo. Minhas madeixas ainda são naturais. Para não poder dizer que nunca viram tinta, uma vez, inventei de fazer um tal de reflexo, seguindo os conselhos da cabeleireira. Fiquei parecendo uma zebra. Nunca mais! Mil vezes o reflexo natural provocado pelo sol e o cloro da natação.

Ah! Mas, eu também não sou completamente imune a exigência universal pela beleza e pago minha cota de sacrifício pela feminilidade...
Sapato de salto alto e bico fino, por exemplo, faz parte do meu martírio diário. Tenho pés de pato. Assumo. Os mindinhos são gordinhos e altos. Não são pezinhos delicados que se encaixam em qualquer scarpin. Volta e meia estou com calos, sempre com nódoas avermelhadas e doloridas. Só não é mais sofrido porque passo o dia sentada e, nesses momentos faço questão de ficar descalça. Ufa!

E a tal da depilação? Aquilo é criação do capeta, tenho certeza disso:
primeiro, aplica-se cera quente. Melhor, escaldando.
- Bobagem... Nem tá tão quente... - dizia dona Ione, enquanto eu me perguntava de onde vinha aquele cheiro de porco assado com molho de caramelo.
- Anestesia geral, Ione, por favor! - eu implorava.
Ela achava graça, eu não sei de quê e grudava uns paninhos em cima daquele melado para, em seguida, arrancá-los, furiosamente, estirpando tufos de pelos e algumas camadas de pele. O pior era agüentar a gozação dos meus irmãos que vinham assistir ao circo de horrores e traziam suas piadinhas infames à tiracolo:
- Pára, Ione! Pára, que passou uma perereca voando por aqui...
Anos e camadas e camadas de pele mais tarde, li uma entrevista com um galã da época que dizia que não gostava da mulher depilada, que achava lindos os pelinhos douradinhos na pele bronzeada. Adorei! Passei a colorir e aparar os pelos com trimmer e tomar mais sol num processo que pode até acelerar a alforria dos radicais, mas é absolutamente indolor, prático e barato.
E a tal da sobrancelha?? Um amigo, em mil, novecentos e antes da invenção do computador, teve o descaramento de afirmar, até com alguma surpresa, que minhas sobrancelhas eram viradas ao contrário. Não entendi nada, já que, como todo mundo, meus pelos crescem do centro do rosto para as laterais. Até que ele me mostrou, no espelho: alguns fios nasceram marginais ao perímetro e, ao invés de se lançarem para fora como os demais, envergonhados por sua ousadia tentavam voltar para junto dos outros. Isso dava mesmo a impressão de que minha sombrancelha crescia no sentido inverso. Visitas regulares a um salão, onde houvesse um algoz devidamente munido de pinça e maldade, resolveria esse problema. Pergunta se eu fui!
Só que, já dizem as más línguas, pejadas de razão: a mulher não se arruma mesmo para o homem, mas para as outras mulheres. Quando uma grande amiga olhou meu rosto e sugeriu dar um trato na sobrancelha, eu até neguei. Mas ela foi tão contundente, afirmou com tanta confiança que minha aparência ia mudar da água pro vinho, que eu ficaria muito mais jovem, com o rosto mais iluminado, que eu titubiei. E, um dia, no salão, enquanto fazia as unhas, resolvi fazer a sobrancelha. Deus me livre!! O que é aquilo? Prefiro fazer um tratamento de canal sem anestesia a me submeter a tal tortura de novo. Infinitas picadas numa região extremamente sensível. Meus olhos se enchiam de água. Quando eu achava que ia acabar, ainda tinha mais, muito mais.
Depois de tanto sofrer, no dia seguinte, fui ao encontro da minha amiga sorrindo com a minha nova aparência, meu rosto muito mais jovem, mais iluminado. Ela nem notou!! Nem, quando eu perguntei...

Essa foi a gota que faltava.

Se der pra dar um trato no visual sem tortura, pode contar comigo.

Se não der, me perdoe o Vinícius, mas o meu bem-estar é fundamental.
Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 22/04/2008
Alterado em 10/02/2010


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