Crise Braba de Gastrite ou Caso de Polícia?
Abandonei a reunião pela metade. Sobre a mesa, deixei documentos, a agenda, uma caneta. Pretendia voltar, mas não consegui. A dor de estômago estava insuportável e liguei para o marido que correu para levar-me ao hospital.
Chegando lá, enquanto ele dava a entrada, na recepção, sentei-me numa das cadeiras de espera. Chorava, encolhida, apertando o abdome com os braços. Uma enfermeira viu, veio ao meu encontro e perguntou se eu estava bem. A primeira resposta que me veio à mente foi "Estou ótima! Mas adoro vir a hospitais ficar chorando, encolhida com cara de dor, só para ver se ainda há solidariedade no mundo." Sem energia para tanto sarcasmo, apenas gemi um "não".
- O que você está sentindo?
- Dor!
- Você está sozinha?
Apontei para o marido, que já nos observava do balcão. A enfermeira foi até ele, e avisou que ia levar-me para um dos boxes da emergência, onde esperaria pelo médico deitada. Ele assentiu, ansioso por ver-me logo medicada.
Quando veio ao meu encontro, eu já estava sendo atendida por uma médica. Ele é um homem grande, forte e, ao vê-lo entrar, o cenho franzido de preocupação dando-lhe um aspecto carrancudo, a médica desconfiou. Pediu-lhe que saísse por um momento, pois queria fazer uns exames. Já tenso, ele irritou-se:
- Ela é minha esposa. Creio que possa ver qualquer exame que a senhora vá fazer.
- Preciso conversar com ela. - a médica insistiu.
- Ok. Pode conversar - ele respondeu, cruzando os braços.
- A sós. - ela o enfrentou.
Nós dois percebemos qual seria a preocupação dela. Ele ainda ia argumentar, mas, com um gemido, fiz um gesto para que ele saísse. Se esse confronto durasse mais alguns segundos, eu pensava, vou morrer de dor. Senão morrer, mato os dois! Ele saiu, furioso. Podia ouvir sua respiração alterada.
Ela fez uma série de perguntas, achava que ele havia me batido. À minha negativa, ainda insistiu um pouco, disse que eu podia falar a verdade, que estava segura. Só desistiu quando eu, apesar de ter voltado a me encolher e chorar, comecei a rir do ridículo da situação. Ou se convenceu ou achou que eu tinha tanto medo dele que estava chorando e rindo de nervoso. Seja como for, ela voltou a abrir a porta, deixando-o entrar e acompanhar toda a consulta.
Ele ficou ao meu lado, amoroso, até o final do soro com a medicação. Ela, de vez em quando passando por lá para acompanhar meu caso, ainda lançava alguns olhares analíticos na direção dele. Depois, ao vê-lo realmente cuidadoso, não saindo nem para almoçar, parece ter se convencido de que eu dizia a verdade.
Já, sem dor, eu ria. Conversávamos sobre ela. Ao final, entendemos que o procedimento dela foi correto. Ela desconfiou, tem que investigar mesmo.
Não era o nosso caso, mas, e se fosse?
Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 14/04/2008
Alterado em 14/04/2008