A Casa da Noite Eterna
Reservo-me o direito de plagiar o nome do filme de John Houge com roteiro de Richard Matheson, pois é sobre ele que vou falar.
Assisti esse filme de terror ainda muito jovem. Dois médiuns, um cientista e sua esposa são contratados por um milionário que lhes oferece uma vultosa quantia em dinheiro para passar alguns dias numa casa mal assombrada, com a incumbência de comprovar a existência, ou não, de vida após a morte. No período em que permanecem na casa, coisas horríveis vão acontecendo. A médium é atormentada por um gato que, em um determinado momento acaba por violentá-la. A esposa do cientista é possuída por algum espírito lascivo e tenta seduzir o médium e por aí vai.
Ao final do filme, o último da noite, as imagens em preto e branco cederam lugar ao enxame de luzes eletrostáticas, única evidência de que ainda havia energia atrás da tela. Todas as luzes apagadas, levantei-me para desligar a TV - ainda não existia controle remoto - e, calcei meu tamanquinho Dr. Sholl.
Um detalhe: meu irmão mais novo, horas antes, estava brincando na sala com seu Bate-Bumbo. Um simpático e barulhento brinquedo de corda, onde um palhacinho, sentado num carrinho multicolorido, batia pratos e um bumbo enquanto corria pelo ambiente. Quando meu irmão adormeceu, minha mãe o levou para a cama e ninguém reparou que o palhaço monstro do inferno havia ficado, ainda com corda, travado no meu tamanco.
Ao levantar o pé, o tal brinquedo demoníaco saiu pela sala, livre e feliz:
- Nhec, plein, nhec, plein, bum!
Levei alguns minutos para desgrudar as unhas do teto. Todas as vinte! Fui para a cama, mas não conseguia conciliar o sono. Estava excitada demais pela carga extra de adrenalina, aliada à agitação dos outros hormônios, incitados pelo filme de suspense paranormal com forte conotação sexual. Ou seja, em plena adolescência, aquele filme foi uma verdadeira bomba atômica de tensão e libido.
Anos depois, ainda me lembrava da obra e desejava muito a oportunidade de assisti-la novamente. Procurei em locadoras, quando de seu advento, mas nunca encontrei.
Alguns meses atrás, porém, não pude acreditar quando a Globo anunciou uma reprise. Coloquei na agenda para não esquecer. Na hora marcada, sentei eufórica, ao lado do marido, não parava de elogiar o filme. Pipoca na mão, refrigerante na outra e... que decepção. O filme é fraco, o enredo, sofrível, não há efeitos especiais e, mesmo as cenas mais eróticas eram até ingênuas se comparadas a algumas apresentadas na novela das sete ou mesmo em Malhação.
Fiquei mais velha, mais chata, menos impressionável ou apenas sexualmente melhor resolvida?
Provalvelmente, todas as anteriores.
Mas acho que o que faltou mesmo foi o maldito Bate-Bumbo.
Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 08/04/2008
Alterado em 26/03/2014