A Calcinha
Ele acordou com o bip, por volta das duas da manhã. O banco de dados havia saído do ar e ele deveria ir até lá, tentar resolver o problema o quanto antes.
Levantou-se meio sonolento, jogou uma água no rosto e voltou ao quarto, tateando no escuro para não acordar a esposa, pegou uma roupa na gaveta vestiu-se rapidamente e saiu.
Mais tarde, o problema já quase resolvido, foi ao banheiro. Ao baixar a braguilha e a cueca foi que encontrou, com as pontas dos dedos, o lacinho. Exatamente, um lacinho de cetim no elástico da cueca. Isto é, a essa altura, ele já havia percebido que não era sua cueca, mas provavelmente uma das calcinhas da esposa, que a empregada devia ter colocado na gaveta dele por engano. Eles vestiam praticamente o mesmo número e como ela gostava de calcinhas grandes de algodão, o engano foi inevitável.
Temendo o pior, ele olhou para baixo. Não!, pensou, rosa, não! Mas era rosa. Um suave e delicado rosa bebê e o infame lacinho ainda era rosa choque.
Constrangido, apesar de estar sozinho no banheiro e talvez, praticamente no prédio inteiro àquela hora da noite, ele procurou se apressar e esconder o mais rápido possível aquele humilhante item feminino em seu vestuário.
De volta à sala, tentou esquecer-se do episódio, para poder concentrar-se no serviço e, de fato, conseguiu, em mais alguns instantes resolver o problema.
Na madrugada deserta, dirigiu como se estivesse atravessando a cidade de São Paulo na hora do rush. Praticou tudo o que aprendera sobre direção defensiva, certificando-se de chegar são e salvo em casa. Seu maior medo? Envolver-se em algum acidente e ir parar no hospital, onde, certamente, iriam despi-lo e encontrariam aquela comprometedora calcinha de algodão rosa com lacinho de cetim.
Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 11/03/2008
Alterado em 22/12/2009