– Ele tem que se defender nos autos do processo e não na Paulista, para os membros da sua seita.
– Pois é. E por que ele faz isso?
– O objetivo explícito é botar medo.
– No Xandão??
– Nas instituições democráticas. Tentar mostrar um apoio popular que ameace a ordem pública, caso ele seja preso. Só que o tiro pode sair pela culatra, se não for tanta gente.
– Eu acho que vai.
– Claro que vai, Helena! Ele ainda tem muitos seguidores. Alguns bem fanáticos.
– Mas acha que vai dar uns dez mil?
– Improvável, mas não impossível.
– E resolve?
– Acho que, nem se fosse um milhão. Você vê: ele foi intimado para depor na quinta, depois de ter convocado a manifestação.
– É…
– E acho que ele já percebeu isso. Então, talvez esteja pensando num plano B: conseguir fotos e vídeos da multidão, seja ela qual for, nos melhores ângulos possíveis pra tentar levar ao mundo novamente a lorota de que as eleições foram fraudadas, que alguém capaz de movimentar as massas, como ele, não poderia ter jamais sido derrotado pelo “nine” e que, sendo uma forte liderança de oposição, está sendo perseguido pelo governo e blá blá blá.
– Mas ele não já tentou convencer lá uns embaixadores, quando ainda era presidente?
– Sim! E por causa disso, ficou inelegível.
– Então, por que acha que agora vai dar certo?
– Porque está desesperado. E, talvez, porque, agora, o objetivo não é mais virar a mesa. Não precisa convencer o mundo inteiro. Basta um país que aceite essa narrativa para lhe conceder asilo político.
– Ele tá pensando em fugir?
– Não dá para descartar essa hipótese.
– Ele pegou o passaporte de volta?
– Ainda não. Mas está insistindo nisso.
– E para onde ele vai?
– Essa é a parte difícil. Mesmo países que têm governo de extrema direita e, talvez, principalmente esses, que conhecem bem as artimanhas da extrema direita, sabem que isso é balela, que não há porque duvidar da legitimidade da eleição do Lula.
– Então, ele não convence ninguém!
– Aí é que está. O país que quiser recebê-lo não precisa realmente acreditar nele. Basta fingir que acredita.
– Entendi. E não podemos fazer nada pra impedir?
– Muito. Além de não devolver o passaporte, somos uma grande potência econômica. Embarcar nessa tramóia, pode afetar a relação comercial com o Brasil e, para alguns países, isso não é um preço razoável por aquele carniça. Mas…
– Ai!
– Pois é. Depois da treta que o Lula arrumou com o Netanyahu, falando do Hitler pra condenar os ataques a Gaza, parece que as relações entre Brasil e Israel já estão bem comprometidas. Eles não teriam nada a perder e ainda poderiam se aproveitar da situação pra espezinhar o presidente.
– Pra que que o Lula foi falar essa besteira?
– Não sei se foi tão besteira, assim, Helena! O que está acontecendo em Gaza é um genocídio e o mundo inteiro tá vendo. Tanto que, apesar dos apelos do Bibi, nenhum outro país se levantou contra nós.
– Mas já tem até pedido de impeachment do Lula por causa disso!
– Presepada dessa oposição, né, Helena?! Se isso andar na Câmara, e o Lira já falou que não vai, o STF barra. Não tem crime.
– Sei lá! Diz que no da Dilma também não tinha.
– Outros tempos. Outras pessoas. E, no final das contas, vários desses que estão encampando essa ideia, estão envolvidos na tentativa de golpe. Podem ser cassados e até presos!
– E vão querer fazer igual ao mito deles? Se fazer de perseguidos e tentar asilo?
– Provavelmente. O manual de instruções é o mesmo.
– Aff! Haja Paulista pra toda essa gente!
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Imagem gerada pela IA Dall-E
Texto publicado na minha coluna de hoje do Alô Brasília:
https://alo.com.br/esperneio-na-paulista/