- E tu, fazendo um drama por causa do peixinho.
- Oi?
- Você, brigou com o Juquinha que quis dormir com o peixinho e tirou ele do aquário.
- Ô, gente! Matou o pobrezinho. Mas, a culpa foi minha. Tinha que ter explicado pra ele. Ele ficou arrasado.
- Diferente da Micheque, que mandou matar os peixes pra pegar moeda.
- E não é? Gente gananciosa!
- E ainda era má com os empregados.
- Sim. E ainda vivia arrumando quizumba com os filhos do 00.
- E era má com os empregados.
- Fora os desvios no cartão corporativo. Até o silicone dos seios dela, tão dizendo que a gente é que pagou.
- E era má com os empregados.
- Helena? Quer falar alguma coisa?
- Não.
- Alguém aqui tá te maltratando?
- Nem! Todo mundo aqui me ama.
- Menos, Helena.
- Não era amor-ô-ô. Era cilada, cilada, cilada.
- Também não, né, Helena? Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. A gente procura te tratar com respeito. Se alguém te destratar aqui, me avisa, viu? Incluindo as crianças.
- Viu. Tô só zoando. Ninguém aqui é ruim comigo.
- Ah, bom! Mas, já que falou em cilada, o que tá achando dessa presepada do Marcos Do Val que queria gravar o Xandão?
- Ele complicou o minto, né?
- Sim! Em qualquer uma das versões, a presença do biroliro é criminosa. Mas muitos analistas entendem que o episódio também abalou a imagem do ministro, que deveria ter se recusado a receber o senador informalmente e que, já que não fez isso, devia era ter dado voz de prisão, assim que ele terminou o relato.
- E aí?
- Aí, que ele pode ser considerado parte interessada e, por isso, ficar impossibilitado de seguir à frente do inquérito das fake news.
- Eita! Como?
- Acho que é bobagem. A lei que determina o afastamento de um juiz por envolvimento positivo ou negativo com uma das partes não vale se o causador desse envolvimento for uma das partes.
- Tendi nadinha!
- É assim: um juiz não pode arbitrar num processo envolvendo um amigo ou inimigo.
- Faz sentido.
- Agora, imagina que alguém percebe que está muito perto de perder uma ação na justiça, e, pra se livrar do juiz, arruma uma briga com ele na rua.
- Entendi. Daí, não vale.
- Isso. Tá na cara que foi armação.
- Mas vai ficar por isso mesmo?
- Não. Xandão já mandou investigar o fake swat.
- Quem?
- O tal Do Val. Ele dizia que era policial e tinha treinado a swat. Já foi desmentido nas duas afirmações. A única verdade é que dava treinamento em técnicas de imobilização e, com muito boa vontade, dá para acreditar que, talvez, tenha dado aulas em alguma academia frequentada por agentes e uma das várias SWATs espalhadas pelos estados americanos.
- É assim que esse povo se elege, né? Só na mentirada.
- E lacração. Vê aquele moleque lá de Minas, que foi o deputado mais votado no Brasil. Atacou de graça a menina!
- Que menina? Não tô sabendo!
- Também não conhecia… Ela é modelo acima do peso e ativista contra a gordofobia.
- Sei, não. Mas, o que ele fez?
- Uma piada idiota sobre o corpo dela. É uma forma de chamar mais a atenção. Ela tem mais de três milhões de seguidores.
- Mas, não vão ficar contra ele?
- Muitos vão. Mas o algoritmo ajuda a distribuir a treta para quem pensa como ele, uns recalcados que morrem de medo de deixarem de ser especiais e superiores, se as minorias começarem a ser tratadas como iguais.
- Credo!
- Lembrei da matadora de carpas.
- Por quê?
- Diz que estavam querendo lançar ela candidata se o biroliro ficar inelegível. Duvido que ela consiga, no meio de tanto machista.
- É mesmo!
- E isso me faz observar outra coisa: não duvido nada que a reportagem que fala dos horrores no Alvorada nesses quatro anos, tenha sido plantada pelos filhotes mais velhos do capetão. O texto só fala mal dela e do lobistinha.
- Ela já desistiu, né?
- Disse que sim, mas ainda temos muito tempo até as próximas eleições. E, sabe como é. Até lá o povo esquece toda essa sujeira. Ei! Por falar em sujeira… Quando é que você vai dar uma limpada nesses armários?
- E era má com os empregados!
Texto publicado na minha coluna de hoje do Jornal Alô Brasília