– Tá calada, hoje, dona Zuleica.
– Tô igual ao Roberto Carlos: muitas emoções…
– Mesmo? Quais?
– Medo, vergonha, tristeza, esperança…
– De despachar o coiso já no primeiro turno?
– Isso.
– E medo dele ir pro segundo e virar.
– Sim! E, também, de me manifestar, de pôr um adesivo ou vestir uma camiseta de partido e algum fanático seguidor dele me agredir ou estragar o carro…
– Verdade. Vi a pesquisa. Acho que você nem devia vestir vermelho.
– Aí, é demais! Adoro vermelho, fica bem em mim. Já falamos sobre isso.
– Ai, ai! E a vergonha?
– De usar vermelho!?
– Não! Que você está sentindo!
– Ah! Do gado, lá no Reino Unido, mandando os ingleses pra Venezuela, dizendo que eles não deviam estar ali. O coitado do súdito da rainha morta pedindo um pouco de respeito no velório dela e eles mugindo: “Globolixo, vai pra Cuba, comunista!”
– Vi isso, não! Que horror!!
– E o mito deles, lá, fazendo comício na embaixada, sorrindo de orelha a orelha ao cumprimentar o novo rei que acabou de perder a mãe…
– Ah! Nem!
– Fora o discurso na ONU, totalmente eleitoral e cheio de mentira.
– Dá tristeza mesmo.
– Sim! É triste saber que tanta gente votou nesse energúmeno, que nunca fez nada que prestasse na vida, que em quase trinta anos de congresso só conseguiu aprovar dois projetos, um deles para liberar o uso de um remédio sem efeitos comprovados…
– Cloroquina!!
– Não, Helena! Este foi antes. É contra o câncer: fosfato-alguma coisa.
– Já ouvi falar.
– Houve uma grande campanha pela liberação e ele soube pegar a carona. Oportunista!
– E as falas dele? Chamando colega deputada de vagabunda, defendendo tortura, golpe de estado, odiando pobre, mulher e gay, dizendo que sonega tudo o que pode… Até as rachadinhas já tinham aparecido em 2018 e, ainda assim, votaram nele, ao invés do professor! Muito triste!
– Mais triste é ainda votarem!
– Sim! Depois desses quase quatro anos caóticos, com roubalheira e incompetência para todo lado, principalmente na pandemia, saber que ainda tem quem apoie esse coisa tão apaixonadamente, a ponto de matar por ele, é desolador.
– É… Mas eu tô otimista! Acho que vamos despachar essa desgraça de uma vez, logo no dia 02.
– Eu comecei assim. Por causa das pesquisas.
– Daí vieram as outras emoções?
– Sim. Os números apontam para a possibilidade, não para a certeza de primeiro turno. Existe o risco da abstenção. Grande parte do eleitorado do Lula tem mais dificuldades na hora de votar: falta de transporte público e de dinheiro para passagens, atuação das milícias, impossibilidade de se ausentar do trabalho…
– Vixe! É mesmo!
– Pois é. E o segundo turno é complicado, não só dá mais tempo pro capetão tentar alguma picaretagem, como também facilita a contestação do resultado, já que só estarão em jogo eleições do executivo, ao invés de mais de 5000 cargos no legislativo.
– Aff! Nem brinca!
– Não tô. É sério!
– Eu sei! São mesmo muitas emoções!
– Mas foi bom falar sobre elas. Já estou bem melhor. Obrigada!
– Obrigada, nada, que, agora, quem tá aqui toda emocionada, sou eu!
Texto publicado em minha coluna de hoje do Alô Brasília