- Aff! Roberto é teimoso demais!!
- Ê, Helena! Não fica brigando à toa.
- Eu?
- Sim! Vi o que você disse pra ele.
- Dona Zuleica! Que feio!! Ouvindo a conversa dos outros!
- Ôxi! Você estava aos berros no telefone! Desculpa aí. Sou surda, não.
- É que ele me irrita! Agora que se conformou que não tem mais Moro, encasquetou que vai votar nulo.
- Melhor que no coisa ruim!
- Ele que não se atreva.
- É... Acho que você ficaria solteira!
- Já tô quase.
- Calma, menina! Ainda tem muito tempo até as eleições. Dá para você ir conversando, com jeitinho.
- E o que eu digo praquele turrão?
- Bom... Primeiro, você tem que ouvir. Por que ele quer anular?
- Diz que Lula é ladrão e os outros não têm chance.
- Você já disse para ele que todos são inocentes até prova em contrário e que não há provas da tal roubalheira de Lula?
- Disse! Mas ele acredita no juizeco.
- E ele acha que o Bozo é honesto?
- Não! Ele acha que rachadinha é bobagem, mas que tem os outros escândalos, como o da vacina, o do MEC...
- O patrimônio incompatível com a remuneração, o patrimônio dos filhos...
- Isso. Ele sabe.
- Certo. Então, podemos dizer que, no entendimento dele, neste quesito, os dois são iguais. Vamos pras outras comparações: a vida no período do PT era bem melhor que agora. Mesmo com a Dilma, ele sabe disso, né?
- Sabe.
- Então. Os bolsominions argumentam que o que atrapalhou o governo foi a pandemia e a guerra. Só que isso abalou o mundo todo, e aqui, muito mais, por culpa do presidente que é um incompetente. Nada do que ele faz, faz bem. Isto é... Ele é bom em arrumar confusão e pautar a imprensa para evitar que falem dos problemas da gestão dele.
- E vive falando em golpe.
- Exato! Este é o ponto mais importante. Qualquer um é melhor que ele, que representa uma ameaça à democracia. Ele não tem condição de dar um golpe padrão, mas, se ele se reeleger, indicar mais ministros para o Supremo e continuar aparelhando o Congresso, não duvido que mude as leis para se perpetuar no Planalto e transformar o Brasil numa democracia iliberal, como a Hungria.
- Ai, credo!
- E ele tem a máquina pública, pode conquistar muito voto com medidas populistas. Por isso é importante não se abster. Eu até andei analisando os candidatos, mas, olhando as pesquisas, não quero perder a oportunidade de despachar o coiso logo no primeiro turno.
- É... Vou conversar com o Roberto.
- Isso! Mostra pra ele como a vitória do coiso pode ser perigosa!
- Ah! Isso ele já sabe. Lembrei que tu não é surda... Minhas ameaças, mandei, foi por zap.
Texto publicado na minha coluna semanal do jornal Alô Brasília: