- Que bom que tu chegou, Dona Zuleica! Me explica essa confusão toda aí?
- Confusão? Que confusão?
- Do cara que foi condenado, mas o presidente deu perdão, mas o perdão pode não valer, mas a Câmara não quer cassar, mas ele tem que usar tornozeleira assim mesmo e não usa...
- Ah! E também deve seguir inelegível.
- Ai, Ji-zuis! Assim, fica difícil passar no ENEM.
- Calma, Helena! Deixa para entender essa história toda quando ela acabar. O que você precisa saber é que a tal graça, é só mais uma cortina de fumaça. Bem-sucedida, é claro! Só se fala disso, ao invés dos problemas que realmente afligem o país, como o preço da gasolina, a inflação, a alta dos juros, o desemprego, os casos de corrupção no MEC, a compra de Viagra superfaturado pelas Forças Armadas...
- E vai ter golpe?
- Ih, Helena! Essa é difícil! Que o moço lá dá todas as mostras de que quer, dá. Não sei se isso é teatro pra o eleitorado dele de novo, ou se é verdade, já que parece que pelas urnas ele não se reelege. Entendeu?
- Nada! Quer dizer... Até entendi. Acho que quem não tá entendendo nada é o cara lá que não vota os processos de impeachment.
- É?
- Não é? Se tiver golpe, não fecham a câmara?
- Eita! Tá sabida, hein!?
- Ué, dona Zuleica, foi tu que disse.
- Ah, tá! Lembrei. Essa questão é um pouco mais complexa. Nunca ele teve tanto poder como agora, com o domínio que tem do orçamento. E ele acha que, com isso, controla o cachorro louco, com o STF de focinheira.
- Era minha próxima pergunta: e a treta lá do STF com o exército?
- Não foi o Exército todo, Helena. Só o Ministro da Defesa e tudo indica que foi a mando do Bozo, porque o Barroso falou dos ataques que ele fez à democracia. E eu ainda acho que é mais para pautar a imprensa, mesmo. Eu não acredito que o Exército embarque nessa roubada.
- Tomara que não e... Que cheiro é esse? O feijão!! Esqueci! Ai! Que droga! Tava tão agoniada com essas notícias que queimou tudo!
- Calma, Helena. Troca de panela sem raspar o fundo e coloca para ferver com uns pedaços de cebola.
- E esse arroz? Todo empapado...
- É só enxaguar em água fervente, ó! Depois, basta escorrer, igual macarrão.
- E a carne salgada?
- Você conseguiu salgar a carne também, Helena!?
- Só um pouquinho, dona Zuleica.
- Bota umas batatas e uma xícara de água e deixa cozinhar um pouco mais.
- Ah! Intão tá! Brigada, viu, dona Zuleica?
- Nadinha, Helena.
- Puxa, dona Zuleica! O que seria de você sem mim, hein?
- Eu? Sem você? Uma inútil, Helena! Uma inútil.
Texto publicado na minha coluna semanal do jornal Alô Brasília: