– Dona Zuleica, a pimenta estragou. Ó! Isso é mofo!
– Que nojo! Joga isso fora…
– Engraçado, né? Essa daí não é aquela pimenta braba?
– É. Uma gotinha já arde o prato todo.
– E o mofo nem quis saber.
– Acho que mofo não tem paladar, Helena.
– Igual a essa guerra…
– Desenvolve o raciocínio aí, que eu não captei o paralelo.
– Então? Os States são pimenta brava, mas a Rússia nem quis saber.
– Por este prisma, podemos dizer que a Rússia também é bem poderosa, diante da Ucrânia.
– Isso.
– Na verdade, esse imbróglio aí é bem mais complicado, Helena. Envolve as ambições do Zelensky em fazer parte do bloco europeu e da OTAN.
– Quem?
– O presidente da Ucrânia.
– Ah! E por que não pode?
– Em princípio, sendo uma nação soberana, não haveria problema. Mas, considerando que o único objetivo da OTAN seria combater a União Soviética, para Putin, pareceu uma agressão e o descumprimento do acordo de Minsk, entre os dois países.
– Então, o Putin tem razão na guerra?
– Não! Podemos dizer que ele foi levado a isso, entre outras coisas, pelo desespero do Biden que está com a aprovação muito baixa desde a desastrosa retirada das tropas do Iraque e que, para conseguir algum dividendo político, ficou dando corda para Ucrânia se enforcar. Mas ele é um canalha autocrata e imperialista e perdeu totalmente a razão ao invadir o país vizinho, mesmo tendo argumentos pra isso.
– E o que ele deveria fazer?
– Diplomacia, Helena! As coisas têm que ser resolvidas pelo diálogo. Mas Putin se aproveitou do momento, com líderes fracos na Europa e, claro, nos EUA.
– E no Brasil…
– Acho que podemos dizer que esse fez tanta diferença quanto a ardência da pimenta pro mofo.
– Bom, se a Rússia é tão poderosa, a guerra vai acabar logo, né?
– Parece que era o que o Putin queria. Entrar, depor o governo, botar outro mais alinhado… Mas, a Ucrânia tá resistindo. Muitos países, apoiando e enviando armas. Além disso, o empenho de quem combate por sua pátria é maior do que o de quem invade, às vezes, sem entender bem o que está acontecendo. É claro que a Rússia tem muito mais poder de fogo do que usou até agora, mas usá-lo seria assumir a condição de pária internacional. Apesar de já ter ameaçado.
– E ninguém vai fazer nada?
– Estão fazendo. Desde sanções econômicas até o isolamento do país em áreas como o esporte e as artes. Nem a população russa está apoiando a invasão. O mundo inteiro vai sofrer as consequências. Inflação, desabastecimento… É bem complicado. Tem muitas coisas envolvidas.
– Entendi tudo! Aconteça o que acontecer, quem se lasca mesmo é o povo.
Texto publicado na minha coluna semanal do jornal Alô Brasília: