O relatório da CPI da COVID já está no ventilador espalhando pelo mundo a massa malcheirosa resultante da digestão dos atos e omissões que conduziram o Brasil a esta catastrófica montanha de corpos. Seiscentos mil. Todos mortos. E alguns milhões de sequelados.
Foram seis meses escancarando o plano nacional de contaminação urgente com vistas à imunidade de rebanho por contágio, além de esquemas de corrupção e eutanásias forçadas, oitenta indiciados, incluindo os Bolsonaros, que, assim como Pazuello, Queiroga, Ricardo Barros, Braga Netto e companhia, têm foro privilegiado e, por isso, devem demorar a pagar pelos seus crimes. Para os que não têm, o castigo vem mais rápido.
Agora é esperar e torcer para que nem o Aras consiga arrumar subterfúgios e arquivar tudo isso, nem o Lira insista em carregar a alça de tantos caixões e abra, ao menos, um dos mais de cem pedidos de impeachment que jazem em sua gaveta.
Enquanto isso, vamos observando os desastres que este governo vêm causando ao país em todas as áreas mas, ainda pior, o quanto a ideologia de extrema direita instalada no Planalto e adjacências escancarou o pior de alguns brasileiros, que se consideram no direito de defenderem as ideias mais abjetas ou absurdas, atacando a ciência ou as minorias, a exemplo do próprio presidente, em sua live da semana passada, com mais uma mentira antivacina.
Por outro lado, a sociedade vem exigindo retratações ou punição a quem abusa da liberdade de expressão para propagar ódio ou mentiras e isso pressiona as instituições a agir.
Amparadas nos acordos assinados pelos usuários, as grandes empresas de tecnologia têm retirado das redes as postagens que se enquadram nessas categorias, como o vídeo do presidente, o que suscita um questionamento: é razoável que a linha que separa opinião e crime seja traçada pelo Fecebook e companhia, ainda que motivados pelo clamor popular?
Na mesma linha, devido às manifestações de repúdio após tweets homofóbicos, os patrocinadores do Minas, forçaram o clube a demitir o jogador Maurício Souza num claro exemplo de cultura do cancelamento, uma arma civilizatória contra a barbárie, mas que deve ser adotada com critério, para não se tornar uma caça às bruxas, penalizando inocentes ou exacerbando nas penas aos culpados.
Segundo alguns analistas políticos, o rapaz, apoiador do "mito", ambiciona uma função eletiva mais à frente, e, por isso, acena para seu eleitorado mais conservador e, certamente, não contava com a reação provocada, talvez por acreditar ser esse o juízo da maioria.
Felizmente, ele estava enganado, o que mostra que, apesar de estarmos doentes, muito além da pandemia, como nação, ainda temos cura.
Só precisamos resistir aos efeitos colaterais dos medicamentos disponíveis.
Texto publicado na minha coluna semanal do jornal Alô Brasília
https://alo.com.br/muito-alem-da-pandemia/
Ou veja uma versão um pouquinho menor na edição impressa:
http://alo.com.br/impresso/qui-28-10-2021/
Estou na página 8, Vida & Lazer