Foi Golpe? É!
Toda semana, sentindo-me peixe fora d'água por ter minhas colunas publicadas na página de Vida e Lazer, eu me proponho a não escrever sobre política. Então, o Governo faz alguma bobagem e eis-me aqui, sofrida pelo acúmulo de incompetência e mortes, a contrariar minha decisão.
Depois de Ernesto Araújo cutucar a onça Abreu com vara curta no domingo, Bolsonaro se viu sem alternativas frente ao Senado que já vinha pressionando há algum tempo e demitiu seu assecla mais tresloucado. Acontece que, habituado às cortinas de fumaça, o presidente resolveu provocar um incêndio e, numa esdrúxula demonstração de força, trocou outros tantos ministros e secretários, dentre os quais, Fernando Azevedo, com quem já vinha se estrilando por querer um alinhamento maior do Exército aos seus arroubos autoritários. Demitiu em seguida os comandantes das três forças armadas, quando era sabido que ele pediria apenas a cabeça de Pujol, levando a questionamentos vários sobre a possibilidade de que tenha em mente a realização do tão acalentado sonho do autogolpe que o mantenha soberano no Planalto por mais alguns anos. E euzinha, aqui, duvidando que o país aguente os quase dois que ainda faltam...
Coincidência ou não, ontem foi aniversário do golpe militar de 64, que teve celebração festiva autorizada pela justiça como "liberdade de expressão".
Diante desses fatos, me acovardo, porque sei o que acontece com quem se opõe a regimes ditatoriais e, por isso, melhor passar a escrever só poesia:
320 mil mortos, 3.900 por dia
Política cruel, genocida
Branqueando com a pandemia
Nossa nação colorida
Só morreriam velhos inúteis
Doentes, pretos e pobres
Nossos apelos eram fúteis
Os da economia, mais nobres
Mas agora já se vê a tragédia
No Einstein ou Sírio Libanês
Sofrem ricos e classe média
E o governo, tão pouco fez
Para distrair os incautos
Algo que dê bem na vista
Que conste, senhores, nos autos:
Nova ameaça golpista