Textos



Ódio e Amor

Se um único homem atingir a plenitude do amor,
neutralizará o ódio de milhões.
Mahatma Gandhi

 

Faleceu ontem a ex-primeira dama, Marisa Letícia.
Não vou atribuir a culpa por esta morte aos golpistas e seu constante bombardeio dos últimos anos contra Lula e toda a sua família.
Marisa fumava, tinha pressão alta e a vida ao lado do ex-presidente nunca foi fácil. Se houve agravamento do quadro diante dos constrangimentos recentes, penso ter sido um efeito colateral indesejado, lance de um jogo perigoso do qual ela participava ao lado dele, que foi, por sua vez, adepto dos pedidos não razoáveis de impeachment e ataques ferrenhos a adversários políticos.
Porém, um outro efeito colateral me incomoda mais: o ódio insano contra o PT e tudo o que se relaciona a ele, fazendo pessoas ditas "de bem" celebrarem o episódio, desde as primeiras notícias sobre o AVC de Marisa, desejando sua morte e o fogo eterno para sua alma. Ódio em ambos os lados de uma guerra inconsequente motivada por gente endinheirada e sem escrúpulos com o propósito de tomar ou manter o poder a qualquer custo no País e que nossa gente mal informada abraça com sanha assassina, do mesmo modo que as grandes redes de TV inventaram a rivalidade entre Flamengo e Vasco, Corinthians e Palmeiras ou Brasil e Argentina, para garantir a audiência, sem se importarem que isso depois resultaria em brigas de torcida com espancamentos e mortes.
Por outro lado, o episódio também trouxe à tona um fato inquestionável, que vai além da política e opõem-se frontalmente a todo esse rancor: o amor. Lula e Marisa foram companheiros por mais de 40 anos e enfrentaram juntos, entre todo o resto, rumores de que ele tivesse amantes. Testemunhei esse carinho em 2005, quando, com o Coral Correios Em Canto, fui ao Palácio do Planalto cantar a missa de Natal para o então presidente. Convidado a tirar uma foto conosco, ele fez questão da presença da esposa e foi, pessoalmente, buscar uma cadeira para ela sentar-se ao seu lado.
Não importa o quanto você seja antipetista e esteja realizado com este Brasil tão melhor e menos corrupto de agora (sim, isso foi uma ironia), que tal deixar seu ódio de lado só um pouquinho e dar passagem ao amor, para que ele chore seu luto em paz?

 
Texto publicado em minha coluna Dando Pitaco da edição de hoje no jornal Alô Brasília.
Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 03/02/2017


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