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Castelo de Areia

Fiz um castelo de areia
A onda veio e levou
Na hora, fiquei bem triste
E tive raiva de mim

Que boba eu fui construindo
Com capricho, cada detalhe
Cada torre, as janelinhas
O portão em ponte, o fosso
Pátio, capela, arsenal
Sabendo que todo o esforço
Seria vão ao avanço
Inevitável da maré

Mas quis tanto vê-lo pronto
Que achei que minha vontade
Seria barreira bastante
À força imensa do mar

E me dediquei inteira
Até que ele surgiu
Bonito, grande, imponente
Pra logo em seguida ruir
Ao peso da enxurrada
Transformado num monturo
Que a cada lambida das águas
Mais se fundia ao chão

Naquele momento, eu senti
Algo em mim se quebrou
E acompanhei seu sumiço
Na esperança de, com isso
Superar tudo, esquecer

Não foi assim, na verdade
A lembrança dele, lindo
Acompanhou-me pra sempre
Não foi um tempo perdido
Não foi uma batalha vã
Por algum tempo fui dona
De toda uma cidadela
E a vida fervilhando nela
Valeu a pena, afinal

 
Este texto faz parte do Exercício Criativo - Castelos de Areia
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Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 01/08/2016


Comentários
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Jorge de Oliveira
Uma obra belíssima, minha cara poetisa. Parabéns e aquele abraço.
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RosalvaMaria
Amei, Nena. Fica sempre, de tudo, um pouco. Às vezes, fica muito. Nossos castelos sonhados nos deixam muito e nos fazem ser quem somos, mais resistentes...aprendemos, assim, a recomeçar sempre depois do ruir... Abraço,
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Mado
O que seria da vida sem os sonhos e os castelos de areia? Linda inspiração, Nena! Passando para deixar o meu abraço,
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Roseane Namastê
que belo poema Nena, um sonho vivido e uma lembrança linda que ficou... muitas metáforas borbulhando! abraços Rose
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MVA
Pois é, Nena. É assim que somos;construtores de castelos de areia. Mas com toda a dificuldade, com toda a força que as marés têm, ainda assim eles deixam marcas para sempre. Não há maré que destrua uma vontade firme. A água pode levar o que foi feito sem estrutura , mas esta firmeza, a vontade construtora, ela, o mar, ou a tempestade não leva. Os castelos permanecem em nossa mente a nos impulsionar para frente, sempre. Grande texto. Abraços.