Textos



Tristezas, Alegrias e Expectativa
 
Muitas vezes é a falta de caráter que decide uma partida.
Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos.
Nelson Rodrigues
 
Dia dos namorados, Orlando, boate Pulse. Cinquenta mortes. Terrorismo? Pouco antes da tragédia, o assassino jurou lealdade ao Estado Islâmico, que, prontamente, assumiu a autoria do atentado, num gesto considerado oportunista, já que em seu boletim diário não havia qualquer referência ao ataque.
Mais provável tratar-se de crime de ódio. Depoimentos indicam que o autor dos disparos frequentava ambientes GLS, inclusive a própria boate alvo dos disparos, além de ser usuário de um aplicativo que promove encontro entre homossexuais. A própria ex esposa do sujeito declarou ter dúvidas sobre sua orientação sexual e talvez a dificuldade de lidar com seu homossexualismo diante de seu fundamentalismo religioso tenha sido o estopim para o surto homicida, reescrevendo a expressão: “não pode vencê-los, junte-se a eles.” para algo como “não pode deixá-los, destrua-os todos”.
O evento trouxe à tona, além da óbvia questão da homofobia, a discussão sobre o gosto norte-americano por armas, cujo porte é dado sem grandes critérios a qualquer um e que já resultou em vários eventos semelhantes, seja por motivos claros, seja por psicoses variadas. Este, talvez seja o bom viés dessa história triste: colocar em cheque novamente essa facilidade que o americano comum (nem sempre normal) tem para adquirir armas de fogo.
E por falar em lado bom de alguma coisa ruim, até que não foi tão mal ser eliminados pelo Peru. Valeu a queda do Dunga que nunca deveria ter assumido o comando da seleção canarinho. Assume o Tite, cotado desde a copa dos 7 a 1 pros alemães. Tá. Futebol não é tão importante. Mas, com tanto problema neste país, não é possível que nem mesmo o futebol dê alegria mais ao brasileiro.
E já que o mote agora é alegria, eis que, finalmente, foi aprovado o relatório da comissão de ética da Câmara que recomenda a cassação de seu ex-presidente, Eduardo Cunha. O sepultamento definitivo do mandato dele ainda deve passar pelo plenário, mas já dá pra comemorar. Ainda mais que ele promete levar um bando de salafrários com ele. Dedos cruzados à espera, embora a gente saiba que não dá para confiar em promessa de político.

 
Texto publicado na edição de hoje do jornal Alô Brasília.
Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 17/06/2016


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