Nos últimos dias, duas senhoras, ambas casadas com figuras públicas, causaram na mídia, gerando polêmica.
A Veja da semana passada apresentou a "bela, recatada e do lar", vice primeira dama, Marcela Temer, em reportagem duramente criticada por feministas de ambos os sexos, devido ao seu conteúdo retrógrado e manipulador. No atual momento do País, em parte causado pelo próprio semanário que sempre deixou claro seu posicionamento contra o governo Dilma, a mensagem óbvia foi: apoiando o impeachment, você tira, do mais alto posto político do Brasil, uma ex-guerrilheira de temperamento difícil e sem atrativos físicos, coloca lá um homem e, de quebra, ganha um modelo feminino muito mais palatável ao gosto chauvinista tupiniquim: jovem, atraente sem ser vulgar, esposa, mãe e dedicada ao universo doméstico, alheia aos assuntos do mundo que devem mesmo ficar sob controle masculino.
Sem entrar no mérito das escolhas de Marcela que, dentro das leis, pode ser o que desejar, convenhamos, o artigo foi um lamentável quadro da realidade nacional. A revista estava ciente de que desagradaria a mulherada que luta por igualdade, pelo direito de escolher e seguir a carreira que quiser - até a política -, de sonhar em ser mais do que a sombra - ou a primeira dama - de seu macho. Por outro lado, seduzia um público muito maior com a imagem da moçoila, buscando reduzir a rejeição crescente ao seu impopular e ardiloso marido.
A outra noticiada foi a consorte do Ministro do Turismo, Alessandro Teixeira. Milena Santos, eleita Miss bumbum Estados Unidos em 2013, não tem nenhum pudor em exibir seus dotes, o que provocou uma avalanche de comentários nojentos sobre sua honra e dignidade. Não há nada que indique ser ela uma profissional do sexo, mas para a tradicional misoginia brasileira, a moça tornou-se o exemplo paradigmático de prostituta.
Esta, aliás, foi a "ofensa" mais usada, inclusive por mulheres, o que é ainda mais triste. Avaliar o caráter de Marcela ou Milena por seus modos é manter a nós todas sob o jugo desta sociedade machista, que ainda exige que a mulher "se dê ao respeito", sem jamais vir a respeitá-la realmente.
Texto publicado na edição de
hoje do Jornal Alô Brasília. Importante ressaltar que não me identifico com Marcela, mas também não me identifico com Milena, porque acredito que a exposição que ela faz do próprio corpo alimenta a objetivação da mulher.