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Nau Frágil

Acordou náufrago, em ilha deserta, cercada de desilusões por todos os lados.
Aos poucos as lembranças voltavam. O frágil barco do amor lançado ao mar da vida, ela ao seu lado no leme, apostando tudo nessa viagem rumo à felicidade.
Aos poucos, as divergências quanto à rota começaram a atrapalhar. Há muitos caminhos para esse destino, mas não se chega a ele com os porões cada vez mais repletos de ciúmes, indiferença, tristezas, desatenções, cobranças, falta de diálogo, desavenças… Com o peso dessa carga, a embarcação afundou.
Ela e ele salvaram-se, agarrados, cada qual, às suas próprias verdades, tão díspares entre si que os levaram para direções opostas.
Sentado ali na areia, observava o reflexo do luar nas águas. Lembrou-se do deslumbramento dela diante de uma lua plena como aquela. Em outra ocasião, a fotografaria para ela. Agora, não havia mais motivos. Nem para isso, nem para tantas outras coisas que até bem pouco tempo trançavam suas histórias.
Sentiu-se só, saudoso. Desejou voltar atrás, lançou para além da linha de arrebentação uma mensagem na garrafa. Sabia, porém, que, mesmo que enchesse delas o oceano de desencanto que os separava agora, não havia mais retorno para eles.
Não muito longe dali, ela iniciava uma longa caminhada terra a dentro. Às suas costas, deixava a praia vazia e, na areia, o enorme SOS escrito com pedras e conchas, na vã esperança de que ele a viesse procurar.
 
Este texto faz parte do Exercício Criativo - Uma Mensagem na Garrafa
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Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 25/04/2016
Alterado em 25/04/2016


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