Textos



Dia da Mentira

 
Jamais diga uma mentira que não possa provar.
Millôr Fernandes

 
Fruto do desgaste de uma relação conflituosa que já dura 13 anos, o PMDB desembarcou do Governo esta semana. Dentre os argumentos para a decisão, o partido diz preferir não ter seus filiados em posições de destaque junto aos petistas, a quem são atribuídos os maiores casos de corrupção e má gestão da história brasileira. Nada mais dia dos tolos do que essa conversa mole. Mesmo dentre os defensores do impeachment. sabe-se que a debandada se deveu à ambição de Temer e seus correligionários, que herdarão as rédeas do Brasil. Terão que dividir o espólio com os demais arquitetos do golpe, mas o naco que lhes caberá ainda consegue ser bem atraente para que abram mão dos cargos que têm agora em vários escalões. Diz o ditado que mais vale um pássaro na mão do que dois voando, mas para nosso vice, eles não precisam estar vivos e o rifle é bom.
Sei que anda cansativo aturar tanta mentira na mídia, nas redes sociais, nas propagandas partidárias. Ok. Desculpa por incluir esta última na lista. Jamais se espera sinceridade em publicidade política. Mas a coisa está mesmo fora de controle. Cada um inventa o que quer, aborda o assunto como melhor lhe convém, estica ou encolhe os fatos para que melhor se encaixem em seus interesses, sejam eles quais forem.
Veríssimo, em seu texto A Verdade conta as desventuras da princesa que perde um valioso anel nas águas do rio, e, por medo da ira de seu pai, mente dizendo ter sido roubada. Dois suspeitos do roubo são mortos. Um terceiro homem apresenta a joia e, para defender-se, alega tê-la ganho da moça, como pagamento por favores sexuais. Os puritanos do lugar a condenam à forca. Quando sozinha com seu acusador, ela pergunta:
- Por minha mentira, dois inocentes foram mortos. Pela sua, eu serei. Onde está a verdade?
- A verdade é que eu encontrei este anel na barriga de um peixe, mas o que o povo quer é violência e sexo, não histórias de pescador.
E é cada bomba que ficamos loucos para alguém aparecer desmentindo e rindo da nossa cara: Cai-iu! Primeiro de Abri-il.

 
Texto publicado no Jornal Alô Brasília de hoje.
Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 01/04/2016


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