Textos



Bagagem


A Lei de Murphy é algo transcendente. Lavar o seu carro para fazer com que chova não funciona.
Luiz Nussi


Abro o porta-malas e quando pego a bolsinha que deveria ter apenas uma muda de roupas confortável para a prática da ioga, percebo que ela está cheia de tudo o que eu tinha espalhado pelo console, porta-luvas e vãos do painel. Esvazio a bolsa aborrecida, lembrando que o marido ficou com o meu carro na véspera e decidiu deixá-lo num lava-jato, o que justificou a tentativa de sumiço da minha bagunça. Opa! Nada a haver com a operação da PF que levou Lula a depor esta semana.
Tá. Concordo. Ele foi legal lavando meu carro, embora eu saiba que isso foi apenas resultado da síndrome de pânico masculina diante de um carro usado predominantemente por mulher. Nossos carros são apenas instrumentos, enquanto os deles se parecem mais com pequenos templos sobre rodas. O meu precisava mesmo de uma faxina, cheio de papeizinhos, guardanapos e pelos de cachorro. Ontem, ao abrir o porta-malas e se deparar com minha mochila do tênis, colchão da ioga, bolsa de roupas da ioga, bolsa de roupas para o tênis, bolsa com um kit extra de roupas para o tênis, bolsa com roupas para ginástica e um envelope grande com radiografias, ele não resistiu e brincou com os lavadores dizendo que acha que eu estou pensando em fugir de casa, tamanha é a quantidade de tralhas que carrego comigo.
Conversando com uma colega, ela me deu razão e disse que com ela é a mesma coisa. Depois que o marido usa o carro dela, ela nunca encontra a pinça ou a lixa de unha que deveriam estar por ali.
Mas... Um amigo, após ter seu automóvel arrombado, começou a enumerar tudo o que furtaram dele. Foi tanta coisa que eu seria capaz de jurar que ele morava no carro.
Na verdade, não importa o sexo, nossa vida corrida nos obriga a sair de casa pela manhã prontos pro resto do dia. Para frio, calor, o esporte, os estudos, os hobbies... Mulheres são mais precavidas, mas a necessidade é quem dita as regras.
Tipo, no engarrafamento desta terça-feira, em que a chuva parou a cidade... Pensei como seria bom ter alguma coisa pra comer, uma garrafinha de água...
Mas, depois de hora e meia parada no trânsito, o que eu queria muito mesmo ter lá dentro, era um belo de um banheiro!

 
Texto publicado no jornal Alô Brasília de hoje.
Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 11/03/2016


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