Textos

 

Grossa? Eu!?

A minha gentileza depende mais do meu humor
do que da sua.
Andrezza Manoela 

De repente, descubro que há quem me considere grosseira. Euzinha!? Tão cuti-cuti, simpatiquinha, miss empatia, toda zen, sensível e generosa? Não pode!
Passado o choque, começo a observar minhas atitudes e percebo que, em tom de brincadeira, às vezes dou umas respostas atravessadas. Para quem não me conhece direito, podem soar bem rudes.
Por outro lado, também sou bastante tolerante com a rispidez alheia, que costumo atribuir à pressa, a uma escolha infeliz de palavras, a uma tentativa desastrada de fazer humor, ao estresse ou irritação momentâneos. Ou à soma de mais de uma dessas opções, como é o que me acontece, frequentemente.
Mesmo acreditando que todo argumento torna-se mais válido quando apresentado com educação, essa minha capacidade de fazer vistas grossas à falta de gentileza me faz apoiar querelantes desbocados, ríspidos ou irônicos, desde que seus pontos de vista coincidam com os meus.
O problema é que nem todo mundo é assim e muita gente se retrai diante de discursos irados, assustada pela truculência e incapaz de manter a atenção nas ideias e fatos colocados. Pode-se até compreender o destempero, se adjacente a uma situação desagradável, como um acidente de trânsito ou um comentário preconceituoso, por exemplo. Porém, ele se mostra também quando a pessoa tem tempo para processar tudo, elaborar um texto apresentando o seu ponto de vista e providenciar os meios para sua publicação. E o tiro acaba saindo pela culatra ou, pelo menos, aquele manifesto não representará a todos que poderiam encampá-lo, uma vez que torna-se aversivo a quem não lida bem com a comunicação violenta.
Se a intenção é apenas demonstrar indignação, a acrimônia tem seu valor. Mas, na maioria das vezes, o que se deseja de fato é mobilizar outras pessoas para a causa defendida e aí vale mais a pena investir na moderação.
Não é fácil. Ânimo inflamado, a vontade é sair por aí cuspindo fogo. Faça não. Tome um copo d’água, conte até dez e espere a temperatura baixar. Ou corre-se o risco de chamuscar justamente quem poderia ser o seu maior aliado nessa luta.

 
Texto publicado na edição de hoje no Jornal Alô Brasília.
Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 29/01/2016


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