Nunca acreditei em Papai Noel. Desde sempre, acompanhávamos de perto a luta de meus pais para nos darem os modestos presentes de Natal.
Ainda assim, sempre gostei da festa, das luzes, das músicas... E dos presépios. Sempre fui apaixonada por eles, pelo bebezinho deitado em palha, pela humildade dos anjos, bichos e adultos à sua volta. Havia a missa, depois a janta sempre muito farta, sempre muito tarde, dando àquele dia um ar todo especial, que encerrava-se com papeis de presente espalhados pelo chão, enquanto nós, divididos entre o cansaço e a empolgação, exauríamos todos os recursos de cada brinquedo.
O tempo passou, os presentes tornaram-se menos divertidos, até porque, a luta para comprá-los passou a ser atribuição nossa também. A comilança perdeu um pouco o atrativo, já que as opções veganas à mesa são um pouco mais limitadas, a algazarra das crianças silenciou-se no tempo.
Mas, uma coisa não mudou: a manjedoura com seus bichinhos e pessoas em adoração ao menino Jesus, ainda me transporta ao mesmo encantamento de quando eu era criança e pasmava em frente ao presépio de nossa casa, com sua grutinha de gesso e as figuras de plástico, minúsculas, quase bidimensionais.
Vai daí que o caro leitor imagina minha reação quando passei pela primeira vez em frente à Igreja de Santo Expedido entre a 303 e a 304 norte e vi o enorme presépio montado a céu aberto, com as imagens em tamanho natural. Foi justamente num ano em que, por motivos vários, minha mãe decidira não decorar a casa para a festa e eu ainda não vira nenhum presépio, já que as decorações nas lojas dificilmente colocam o velho estábulo entre os ricos vermelho e dourado e o Bom Velhinho - catalisadores das vendas de Natal.
Depois disso, nesta época, sempre pego aquela comercial, em atalhos até duvidosos, só para ver a doce cena da Natividade.
Neste ano, porém, uma triste surpresa. Entre os Reis, há um patético Papai Noel, algo menor que as demais figuras mas que destoa tanto do conjunto que se agiganta, ofuscando todo o resto. Que decepção!
É... Acho que agora eu sei como se sente uma criança quando descobre que Papai Noel não existe.
Texto publicado no jornal Alô Brasília de
hoje, com a esperança de ser lido pelo pessoal da Igreja, que, comovido, tirará aquela figura de lá.