Textos


Verdades

O jornal pode ser imparcial dentro de uma reportagem,
mas ao escolher mostrar esta ao invés daquela,
ser extremamente parcial.
Francisco Prosdocimi

Numa roda de amigos, comento algo que assisti no Jornal Nacional e ouço, quase em tom de reprimenda: “Você ainda assiste a esse jornal? Só tem desgraça e manipulação!” Concordei, mas expliquei que preciso acompanhar todas as linhas de pensamento. Assisto aos noticiários da Globo, da Record, da Band e leio alguns jornais e revistas. Não integralmente, claro. Mas costumo pesquisar um pouco antes de sair por aí dando pitaco sobre algum assunto. Penso que isso é fundamental para a formação do senso crítico, já que não existe uma imprensa isenta que se limite a narrar os fatos cotidianos. Seja apenas para vender mais, seja por sua ligação ao governo, a igrejas, entidades de classe, ou, simplesmente, pelas posições de seus dirigentes, cada veículo de comunicação tenderá a apresentar a informação como melhor lhe convier. Na maior parte das vezes, nem é necessário mentir. Basta enfocar o fato pelo ângulo mais adequado, até que ele fique distorcido o bastante para dificultar a visão dos demais. Por exemplo? Se divulgo uma investigação do TSE sobre fraude eleitoral e pretendo que a acusação atinja a pessoa, uso seu nome, já na manchete: "Fulano de Tal na mira do TSE". Caso contrário, uso expressões vagas como "TSE investiga campanha de candidato derrotado". Números também são traiçoeiros: podemos afirmar que 100% das pessoas que comem pão vão morrer. É só uma piada, já que vamos todos morrer um dia, comendo ou não comendo pão. Mas, muitas estatísticas divulgadas pela mídia seguem a mesma linha - com dados algo mais precisos -, e tornam-se críveis, se não atentarmos à falta de uma associação direta entre causa e efeito dos fatos apresentados. Opiniões e posicionamentos nos são impostos também em filmes, novelas, eventos esportivos...
Essa diversidade - desde que haja mesmo uma diversidade - enriquece o debate sério sobre qualquer assunto. É importante, porém, que sejamos capazes de identificar qual é a linha que cada um defende (o que nem sempre é óbvio), para formarmos a nossa própria verdade.
Sob esse prisma, até a Veja merece uma olhada. Ok, ok. Aí, também já é demais, né, não?


 
Texto publicado em minha coluna de hoje no jornal Alô Brasília.
Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 27/11/2015


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