Grávida!? Nãããão!
Até mesmo mães casadas são mães solteiras.
O pai só paga umas contas e lê histórias de ninar,
o suficiente para não morrer de culpa.
Dr. House
Para tornar inequívoca a minha impressão de que estou tendo muita sorte no azar, minha menstruação não veio. Tomo o remédio direitinho e na minha idade, não engravido assim tão fácil. Mas, vai explicar isso pra quem sempre teve paúra da nobre, porém, árdua missão da maternidade.
Pânico total, três noites sem dormir, e o sossego só voltou quando vi o negativo no teste da farmácia, que fiz com as mãos trêmulas e as pernas bambas. Se não me animei quando tinha pique para cuidar de uma pessoinha minha, imagina agora, que o corpo já começa a apresentar sinais de desgaste das peças. E daqui a uns treze anos, quando ele ou ela quiser ir pra balada e eu, quase podendo estacionar nas vagas prioritárias, tiver que ir levar e buscar. Eu, que não consigo chegar acordada ao final do Fantástico, e que tenho insônia se levanto para um xixi no meio da noite... Viraria um zumbi. E bateria o carro. Tenho certeza! Bateria muitos carros e viveria sendo jubilada das corretoras de seguro.
Por garantia, fui ao ginecologista, que só não riu na minha cara, porque é um cavalheiro, mas disse que se eu, dadas as minhas condições estivesse mesmo esperando um bebê, seria caso para capa de revista médica. Ofensa grave chamar de velhusca ou, pior, de infrutífera, a uma mulher que ainda se acha assim, inteirona (com ressalvas) como eu, mas perdoei fácil, pelo alívio que causou.
Neste intervalo, nasceu minha sobrinha linda, Giovana, quarta filha do meu corajoso irmão cinquentão. Planejada. E descubro que tem sido cada vez mais comum essa experiência de pavô: pai-avô. Muitos homens já em vias de se aposentarem, têm tido filhos, dizendo que agora terão mais tempo para curtirem a paternidade, embora eu ainda ache que a maioria deles cede mesmo é à aporrinhação de suas novas esposas bem-mais-novas.
No meu caso, o maridão também já virou meio século. Dois velhotes. Sem chance!
Daí, pensei... O único jeito de encarar essa agora, seria ter cedido à moda das mães solteiras de minha juventude. O filho de então teria sido criado por meus pais e o de agora, pelo irmão. Uma errada anula outra errada. Melhor que vestibular, né não?
Texto publicado em minha coluna de hoje no jornal Alô Brasília.