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Entrar na Linha

Nas academias só há dois tipos de mulheres malhando:
as que não precisam, e as que não adianta.
(Félix Bicha Má - personagem do Facebook)


Caminhava perto de uma academia com o marido, quando passou por nós uma moça vestida para malhar: calça e top justos, meião, tênis... Lembrei da frase acima, pinçada do facebook e, com olhar crítico feminino, vi que os atributos da jovem, todos muito avantajados, a colocariam fácil no segundo grupo.
Uma olhada para minha cara metade e percebi que minha opinião, calcada em progesterona e puramente estética, divergia da dele.
Abstraindo do fato politicamente incorreto de ficar rotulando mulheres na rua por sua forma física, achei curioso como o que me pareceu desproporcional na menina de bundão e peitões, pode ser atraente ao olhar masculino.
Na maioria das culturas antigas, a mulher era representada em curvas generosas como as da atleta gorducha. São sinais de sua presumível fertilidade, qualidade sedutora aos homens desde que ainda andavam de quatro.
Alheias a isto, eu, ela e grande parte das mulheres, vivemos na luta contra a balança, buscando os corpos delgados e elegantes das modelos e atrizes. Até dizemos fazer isso por uma questão de saúde ou para nos sentirmos bem e não para que os homens nos desejem. Seja lá qual for o objetivo, são padrões impostos pela sociedade. E que mudam. Fôssemos matronas na renascença e haveria muito mais confeitarias do que academias por aqui.
Mas não somos. Dia desses, assisti àquele chato programinha matinal da Fátima Bernardes. Num dos quadros, belas mulheres gordas, psicólogos e médicos defendiam, frente à plateia e ao venerável público telespectador, que é possível ser feliz na contramão da ditadura da magreza. Quase comi um pedaço de torta vegana, quando, a apresentadora trouxe recados de incentivo às rotundas moçoilas e, dentre eles, o de uma cantora peso pesado, dando o maior apoio e se desculpando pela ausência. Motivo? Estar participando do programa Medida Certa, também da Globo, cujo objetivo é emagrecer em frente às câmeras. Ah, tá!
Somos cruéis com pontos fora da linha. Eu já fui um e, contrariando a frase lá em cima, a academia adiantou. Amei!
Mas a olhada do marido para a roliça transeunte, me faz crer que esta linha anda fininha demais.

 
Texto publicado em minha coluna, no jornal Alô Brasília de hoje.
Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 19/06/2015


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