Mulher é Fogo
As mulheres existem para que as amemos,
e não para que as compreendamos.
Oscar Wilde
Me pediram para falar de mulher. Claro que não neguei. Adoro falar de nós. Afinal, mulher é assunto pra muita literatura. Inclusive, médica.
Mulher é bicho esquisito, já dizia Rita Lee.
Suportamos com bravura, sapatos altos, depilação e até ácido na cara, tudo em nome da beleza. Encaramos TPM, menstruação e exames ginecológicos, mamografia, lipoaspiração e cirurgia plástica. Enfrentamos o mundo pelos filhos, as dores do parto para tê-los e todos os efeitos colaterais dos anticoncepcionais para evitá-los. Lutamos por igualdade, enfrentando o machismo e o preconceito...
Até que apareça um rato ou uma barata. Até o primeiro pneu furado, um móvel pesado para arrastar, uma tampa de maionese emperrada... Daí, logo damos IBOPE à nossa fragilidade e pedimos arrego a eles.
Aconteceu comigo. Com apenas uma semana de carteira de motorista, encaçapei a traseira de um Santana, zerinho, num sinal fechado. Desci do carro às gargalhadas: havia mudado de faixa segundos antes. Se tivesse permanecido na mesma, teria batido na traseira de um fusquinha velho. Anos depois, envolvi-me num outro acidente, mas desta vez estava com o namorado. Debulhei-me em lágrimas, aliviada por ter quem cuidasse de tudo pra mim.
Às vezes somos vítimas, manipuladas, mal amadas pelos nossos parceiros e filhos, maltratadas pelos patrões, assediadas por chefes, controladas pelos pais. Mulher sofre. E sofre muito. Somos regidas por hormônios que nos deformam o corpo e o humor, nos enchem de espinhas e dores, mas, ironicamente, morremos de medo do dia em que eles nos deixarão em paz, no sinal mais definitivo de nossa decrepitude.
Contrariando Vininha, a mulher foi, sim, feita para o amor. Crescemos amando nossas bonecas, sonhando com príncipes em cavalos brancos que derrotarão dragões e bruxas por nós, suas lindas princesas. Enquanto os meninos ainda estão perdidos em clubes dos Bolinhas, nós já estamos escrevendo poesia para eles, enrubescendo à sua presença, ansiando a primeira dança, o primeiro abraço da paixão, o primeiro beijo, o primeiro... que queremos que seja eterno, único, especial, mágico.
Continua na próxima sexta-feira.
Texto publicado no jornal Alô Brasília de
hoje, reeditado do texto homônimo publicado neste Recando das Letras em
26/06/2008.