(Mani)festando
Tem tanta coisa coisa errada, que nem cabe em um cartaz.
Cartaz de manifestante na revolta dos R$ 0,20
Sinceramente, ando meio de saco cheio com essa caça às bruxas que domina o Brasil nos últimos meses.
Sim. Estou decepcionada por ver que a roubalheira que eu queria combater quando fui às ruas cantar Lula-lá não acabou. Também não gosto de Dilma. Votei nela por falta de opção.
Mas, daí a dizer que "nunca antes na história deste país" se roubou tanto, é no mínimo, ingênuo. Talvez, nunca antes tenha se investigado tanto e, certamente, nunca houve tanta facilidade de viralizar o que quer que seja, de fatos reais a muita bobagem, incluindo opiniões totalmente equivocadas ou deliberadamente deturpadas.
Domingo, milhões de cidadãos insatisfeitos com a atual conjuntura foram as ruas, em manifestações contra a corrupção. Achei bonito ver o brasileiro saindo da inércia para exigir mudanças.
Como na revolta dos R$ 0,20, porém, observa-se que muita gente está ali, sem saber bem porquê. Uma passadinha pelas redes sociais mostra cartazes sem sentido, pedindo Intervenção Militar, “Fora STJ”, “Basta de Paulo Freire”, “Prisão para Karl Marx” e o campeão: “Feminicídio, sim! Fomenicídio, não!” (algo como "matem-se mulheres, não se mate a fome"). Em vídeo, uma mocinha entrevistada é incapaz de dizer quem assume se houver o impeachment que ela defende. "Mããããe!", ela grita, "eu sou de direita ou de esquerda?".
Fora a intolerância. Aqui em Brasília, um cachorro com uma bandana vermelha foi agredido por manifestantes à porta do supermercado onde sua tutora fazia compras. Um rapaz que vestia uma camiseta com o símbolo do comunismo foi atacado por um senhor que, paradoxalmente, bradava “Você está num país livre!”, esquecido de que, em países livres, as pessoas podem se expressar. Inclusive a favor do comunismo. O que, conste, não era o caso: a imagem na roupa é uma sátira ao regime.
Prefiro crer que estes foram casos isolados de imbecilidade coletiva. Muita gente sensata estava lá para pedir a reforma política e um pouco menos de deboche com o nosso Brasilzão.
O tempo dirá se o recado (não só para o PT!) foi entendido ou, se, como na Revolta dos R$ 0,20, findo o oba oba, as passagens subirão R$ 0,50.
Publicado no jornal Alô Brasília de
ontem.