Brinquedos
A história da mulher é a história da pior tirania que o mundo conheceu: a tirania do mais fraco sobre o mais forte.
Oscar Wilde
Assistia distraída à disputa entre meus sobrinhos. Os meninos provocam as meninas, dizendo que os brinquedos de menino eram muito mais divertidos. Elas, aos berros esganiçados, insistiam que não.
De repente, a mais novinha que também assistia à disputa meio desinteressada, deu o veredicto, do alto da sabedoria adquirida ao longo de seus cinco anos de idade:
- Brinquedo de menino é mais divertido mesmo. Mas bom é ser menina e poder brincar com todos eles.
E colocou sua boneca num reluzente carrinho de bombeiro, “dirigindo-o”, feliz, sob o aplauso das primas e o olhar de inveja dos primos.
Achei graça no desfecho da contenda, mas fiquei ali pensando, no quanto a pequenina tinha razão. E o quanto aquilo se refletia na realidade entre homens e mulheres pela vida a fora.
O mundo masculino sempre foi mais interessante que o feminino.
Aos poucos, porém, elas foram dominando espaços e hoje, pode-se dizer que há poucas portas fechadas a elas. Por outro lado, eles também, em menor escala, seguiram invadindo os territórios antes exclusivos a elas.
Neste momento, minha cunhada, grávida de cinco meses, gritou novamente, feliz ao marido:
- Vem, ela está se mexendo!!
E, meu irmão, encabulado, depois de apalpar-lhe a barriga por longos minutos, lamuriou-se:
- Não senti nada... não adianta, eu nunca consigo...
Neste momento eu lamentei pelos meninos.
Seus brinquedos e seu universo, hoje, tão acessíveis às meninas, podem ser mesmo bem mais divertidos.
Mas há momentos em que eles certamente adorariam ser meninas!
Texto publicado no jornal
Alô Brasília de hoje, reeditado do texto homônimo publicado em
11/03/2008.