A Química do Desejo - final
É quase impossível conciliar as exigências do instinto sexual
com as da civilização.
Sigmund Freud
Continuando o texto da semana passada, lembro que não existe regra para a curva do desejo. Alguns se deixam reger pela lua, outros, pelo abadá e o suor de um carnaval baiano. Libido é mecanismo complexo, não se explica assim tão fácil. Amor e paixão, por exemplo, bagunçam todas as razões biológicas, e ainda há as grandes transformações relacionadas à nossa evolução social.
Outro ponto abordado: se a atração ativa o desejo, sua manutenção está diretamente relacionada ao prazer encontrado na relação. Daí que, se não houve o famoso telefonema no dia seguinte, pode ser que ele seja mesmo um canalha, mas também pode ser que não tenha "rolado química".
Em carta a uma revista feminina, uma mulher dizia-se tarada pelo atual namorado, excitando-se à sua voz ao telefone. Porém, o ex, apesar de nunca tê-la excitado tanto, era, disparado, muito melhor amante. Na resposta, assinada por um sexólogo, a explicação para tanta libido eram os sentimentos dela pelo atual namorado, mas a tendência seria uma redução progressiva com o passar do tempo, a não ser que ele se esforçasse mais, recomendando-lhe mesmo que conversasse com ele sobre isso.
Num seriado americano, um dos personagens namorava uma mulher lindíssima, mas somente conseguia excitar-se ouvindo Barry White. Comédia, claro, embora algumas pessoas precisem mesmo de um empurrãozinho para avivar seu desejo.
Outro catalisador para o nosso tesão, não abordado pela revista, é a autoestima. Olhar-se no espelho e sentir-se atraente pode ser muito excitante. E, quando o espelho é, na verdade, o olhar cheio de vontade de nossa cara metade, aí, não há banho frio que dê jeito.
Pensando bem, a reportagem acrescenta pouco sobre o funcionamento desse mecanismo que tem garantido a perpetuação da espécie humana e a enorme indústria do sexo pelo mundo afora. Não há nada de novo no front.
Há, sim, o que é intrínseco a você e às pessoas capazes de atrair você. São esses nossos fenômenos, individuais e acima de qualquer categorização, que valem cada suspiro, toda a taquicardia e pupila dilatada, cada gota de suor derramado, cada gemido ou sussurro... pra que entender?
Texto publicado no Jornal Alô Brasília de
hoje e reeditado do texto homônimo publicado neste Recanto das Letras em
19/06/2008.