Boçalidades
Vale mais lutar com gente de bem
do que triunfar sobre gente ruim.
Baltasar Gracián y Morales
Semana passada, o deputado Boçalnato... Ops! Bolsonaro afirmou que não estupraria a colega, Maria do Rosário porque ela não merece. Até aí, concordo. Ninguém merece ser vítima de violência sexual. E completo: ninguém merece ser vítima de violência de qualquer tipo, inclusive a tortura que foi uma das excrescências do regime militar, tema do discurso de Maria do Rosário que enfureceu Beócionaro.
Não satisfeito com a declaração desastrosa e contando com a impunidade tão genuinamente nacional, em entrevista ao jornal “Zero Hora”, o infeliz repetiu a afirmação, deixando claro que o não merecimento da deputada deve-se mesmo à sua pouca atratividade física. Donde conclui-se que, fosse uma mulher bonita, a parlamentar poderia ser agraciada com um estupro pelo colega. Uau! Diante dessa perspectiva, as clínicas de estética vão bombar! Já vejo as campanhas promocionais: faça um peeling de cristal e aumente já as suas chances de ser estuprada!
Não. Não dá para fazer humor com isso. Não dá nem para imaginar a dor de quem passou por isso, ao ouvir tamanha insensatez e é inacreditável que essa criatura continue se elegendo com seus discursos e atitudes retrógrados e preconceituosos.
Lembrei da vergonha alheia que tive quando foi publicado, em março, o resultado da pesquisa do IPEA, onde 65% de imbecis, isto é, de entrevistados, defendiam que mulheres em roupas curtas ou decotadas merecem ser violentadas. Depois o instituto voltou atrás e disse que os idiotas, digo, os estúpidos, ou melhor, os... Bem, você entendeu. Esses daí eram "apenas" 26%. Dá um ranço, uma preguiça de gente...
Felizmente, não há apenas Bolsonaros e seus eleitores, por aqui.
Há pessoas iluminadas, lutando por ideais de paz e justiça para todos e eu sou feliz por conviver com algumas delas. Não citarei nenhuma para não cometer a injustiça de omitir alguma, mas são elas que me fazem esquecer no fundo da gaveta minha velha camiseta citando Mark Twain: "Quanto mais conheço as pessoas, mais amo meu cachorro".
Amo os cachorros e à maioria das pessoas.
Quanto às outras, rezo apenas para que evoluam muito e, um dia, só sejam mesmo capazes de latir.
Este texto foi publicado na edição de hoje do jornal Alô Brasília.