Gentes e gentices
Disse que não falaria mais de política este ano, então, hoje, falarei de gente. De gente e de gentices nessas eleições, de como nos deixamos manipular e de como defendemos as ideias nas quais fomos doutrinados, a ponto de ofender qualquer um que ouse pensar diferente. Foi triste observar a conversão de gentes que eu tinha por elegantes e sensatas em criaturas raivosas e desequilibradas.
Como a amiga que ameaçou me tratar por burra ou corrupta se eu votasse no PT. Nesta segunda-feira, ela me procurou para anunciar que, de hoje em diante, só comeremos capim. Sendo vegetariana, me parece mais fácil comer capim, do que engolir sapos. Ou sapas, como a que eu e pouco mais de 51% do eleitorado brasileiro a fizemos engolir. Sapos têm veneno e tanta bufotoxina deve fazer mal pro fígado. Para desopilar, só destilando o rancor em maledicências e maldições, a maior parte contra os nordestinos, mas também contra cariocas e mineiros. Alguns, inconformados, propõe impeachment da Presidenta, anulação do pleito, que julgam fraudulento e até golpe militar.
Tanta ira é fruto da intensa campanha antipetista financiada pela grande mídia brasileira, cujos motivos são vários. Discuti-los seria falar de política, então falemos apenas sobre como as acusações de corrupção e as críticas ao mal desempenho da economia, ao assistencialismo e à vertente comunista do partido, exploradas diuturnamente, influenciaram as gentes.
Gentes mais à direita abraçaram o antipetismo com fervor, sem questionamentos. Do mesmo modo cego, gentes mais à esquerda o rechaçaram. A maioria das gentes beneficiadas pelos programas sociais, ou não acompanham os noticiários ou, na análise custo benefício, entenderam ser melhor deixar tudo como está.
Restou um pequeno grupo de gentes disposto a avaliar criteriosamente todas as cartas na mesa. E aí, disse o professor Graça Veloso, da UnB, ocorreu a mais interessante gentice: votos de protesto para o PT, como resposta indignada às tentativas de manipulação midiática.
Faltou psicologia na política, agora é comprar atropina e beijar a sapa pra ver se vira princesa.
Vai um capinzinho, aí?
Texto publicado na edição de hoje, 31/10/2014, no jornal Alô Brasília.