Em ritmo de dia dos namorados, o assunto de hoje é relacionamento. Se a convivência não está fácil, que tal deixar o preconceito (e o armamento pesado) de lado e encarar uma DR?
Depois do jogo do Brasil seguido do churrasco com amigos, Tomé e Elisa guardavam as sobras de comida, bebida e as louças. Já estava tarde, o cansaço do dia foi se transformando em nervoso e, na terceira vez em que se esbarraram na porta, ele estalou os beiços com impaciência, fazendo-a recuar, também irritada. E assim, os dois permaneceram até o fim da tarefa, quando ela jogou-se sobre uma poltrona de braços cruzados, as pernas apoiadas na mesa de centro. Ele espalhou-se no sofá.
Depois de alguns instantes, ela começou:
- Você reparou, que nas últimas semanas a gente quase não tem um momento de paz? Quando estamos sozinhos, ou estamos transando ou brigando.
Ele sabia que ela tinha razão. Havia sempre certa tensão no ar. E muito tesão. Ela prosseguiu:
- Tudo o que eu faço ou deixo de fazer te irrita. Me sinto pisando em ovos.
Ele sorriu irônico e ela não pode ignorar:
- Por que o riso?
- Porque não é a primeira vez que você me diz isso.
Ela exasperou-se:
- E o fato de eu repetir uma metáfora tira minha razão?
Ele deu de ombros:
- E o que é que você quer?
"Quero o divórcio, quero ir para a casa da mamãe, quero que você vá fazer terapia", as alternativas iam passando por sua cabeça, até que ela lhe respondeu:
- Acho que devemos transar mais.
Ele olhou para ela surpreso, e deparou-se com aquele sorriso maroto pelo qual se apaixonara, anos atrás, aquela espirituosidade que o desconsertava, sempre com uma piadinha na ponta da língua. Ele não pode segurar o riso, acabando por contagiá-la e, em segundos, estavam ambos às gargalhadas.
Ele a chamou, abrindo espaço para ela no sofá:
- Senta aqui, vem.
Ela sentou-se ao lado dele, não deixaria que os aborrecimentos do dia a dia destruíssem o amor que sentiam um pelo outro. Ficaram abraçados por algum tempo, conversando, rindo e relembrando os motivos que os fizeram chegar até ali.
Nesta noite, eles não brigaram. Preferiram a outra alternativa.
Texto publicado em minha coluna de
13/06/2014 no Jornal Alô Brasília, inspirado no texto Precisamos Conversar, publicado neste Recanto das Letras em
10/03/2008.