Ainda mocinha, assisti a um filme de terror chamado A Casa da Noite Eterna, onde, dois médiuns, um cientista e sua esposa são contratados para passar alguns dias numa mansão mal assombrada, com a incumbência de provar a vida após a morte. No período em que permanecem na casa, coisas horríveis vão acontecendo: a médium é atormentada por um gato que, em um determinado momento acaba por violentá-la. A esposa do cientista é possuída por algum espírito lascivo e tenta seduzir o médium e por aí vai.
Após o final inesperado e revelador, desliguei a TV deixando tudo às escuras e calcei meu tamanquinho de madeira. O que eu não sabia é que, horas antes, meu irmão mais novo brincava na sala com seu Bate-Bumbo, um simpático e barulhento palhacinho, num carrinho movido à corda, e o deixara travado pelo meu calçado.
Ao levantar o pé, o tal brinquedo demoníaco saiu pela sala, livre e feliz:
- Nhec, plein, nhec, plein, bum!
Levei alguns minutos para desgrudar minhas vinte unhas do teto e fui deitar, arrepiada até nos pelos do nariz. Quem diz que dorme depois dessa? Estava excitada demais pela carga extra de adrenalina, aliada à agitação dos outros hormônios pelo filme de suspense paranormal com forte conotação sexual. Ou seja, em plena adolescência, aquele filme foi uma verdadeira bomba de tensão e libido.
Por muitos anos, lembrei da obra e desejei a oportunidade de assisti-la novamente. Cheguei a procurar em locadoras quando estavam na moda, mas nunca encontrei.
Por isso, não pude acreditar quando a Globo anunciou uma reprise há alguns meses. Coloquei na agenda para não esquecer e, na hora marcada, sentei eufórica ao lado do marido, não parava de elogiar a história. Pipoca na mão, refrigerante na outra e... que decepção. O filme é fraco; o enredo, sofrível; efeitos especiais, tacanhos e, mesmo as cenas mais tórridas eram até ingênuas, se comparadas a algumas apresentadas na programação vespertina da TV.
Fiquei mais velha, mais chata, menos impressionável ou apenas sexualmente melhor resolvida?
Provavelmente, todas as anteriores.
Mas acho que o que faltou mesmo foi o maldito Bate-Bumbo.
Texto publicado no jornal Alô Brasília de
28/03/2014, reeditado do texto A Casa da Noite Eterna, publicado no Recanto das Letras em
08/04/08.