Circula na internet um texto bonitinho que narra a reação de um anjo à criação da mulher, maravilhado por tantas qualidades num único ser. Deus ressalta nosso único defeito: não sabemos o quanto valemos.
Sabemos?
Em algumas culturas, o valor da mulher é numérico, depende de sua idade, fertilidade, utilidade e aparência. Fiz minha cotação no site Camel Evil Sun e descobri que meu valor fica em torno dos 65 camelos. O mesmo site diz que um camelo vale, em média, 2.000€. Uau! Dá para comprar uma BMW 550i! Ou seja, tô valendo uma máquina!
Já na China, com uma tradicional preferência por herdeiros do sexo masculino e um rigoroso controle populacional, muitos pais optam pelo aborto de meninas. Talvez lá, eu nem valesse algum remorso.
Mesmo em algumas países ocidentais, alguns de primeiro mundo, muitas vezes a mulher é tratada como mercadoria. Há o tráfico de mulheres, crime acobertado por governos, policiais corruptos e grandes empresários. Há a prostituição institucionalizada. Há a banalização do sexo e do nu.
Mas o tal textinho não tem esse viés social. O valor a que o autor se refere é o de nossa auto-estima. Temos mesmo a tendência de nos depreciar, vendendo-nos por pouco, trocando corpos e almas por vagas promessas de amor, sujeitando-nos a companheiros egoístas, cruéis, indiferentes, aceitando caladas a condição de vítimas da violência, do assédio, dos maus tratos.
A ideia tem seu mérito, por obrigar à reflexão. Porém, penso que Deus não nos teria criado com tal defeito. Toda mulher nasce princesa e cresce diva, até conhecer seu primeiro canalha, um desses seres primitivos que só quer, por instinto, ser o macho alfa do harém.
Confusa, ela sente-se mesmo inferior, desvalorizada por aquele a quem ama, aos olhos dele, não mais que uma fêmea qualquer. E ela vai sofrer muito, até se livrar desse engano.
Feliz, porém, o homem que sabe dar à mulher o valor que ela merece. Somente aquele capaz de vê-la como sua igual, construida à imagem e semelhança do mesmo Criador, pode entender nela sua real condição divina. E terá ao seu lado uma mulher por inteiro.
Sem defeitos, como Deus a fez.
Texto publicado no jornal Alô Brasília, em sua edição de
07/03/2014 e reeditado do texto homônimo publicado neste Recanto das Letras em
07/04/2010.