Textos



Bora dar um Rolé?

 
A juventude é uma coisa maravilhosa.
Que pena desperdiçá-la em jovens.
George Bernard Shaw


Oba! Exposição de arte no shopping! Preciso mesmo comprar uns presentes, vamos dar um rolé por lá?
Ué! Surpreso? Pois fique sabendo que várias das gírias usadas agora já povoaram nosso vocabulário quando éramos nós os jovens da vez, embora o sentido de algumas tenha mudado bastante, como no caso do rolé. Na minha frase - e época - era apenas "passeio".
Hoje, os rolezinhos deixam donos, empregados e usuários de shoppings meio tensos, ao botar pra dentro dos nossos templos de consumo, uma garotada que, ora não tem objetivos e só quer bagunçar, ora quer se posicionar numa sociedade que, muitas vezes, lhe é hostil e, portanto, merece também sua hostilidade.
De um lado, rolezeiros e socialistas levantam a bandeira contra o racismo e o preconceito ao jovem da periferia, defendendendo as manifestações. De outro, o status quo exige ordem e quer manter o que chama de arruaceiros do lado de fora. Longe, se possível.
E dá-lhe liminar, segurança particular e polícia, para coibir a entrada da galera (esta gíria ainda vale?) nos centros comerciais.
Nietzsche defendia o conceito de comportamento de manada, que é a tendência de, em meio à multidão, agir como ela, não importa o rumo que ela tome. Isto talvez justifique a preocupação das “pessoas de bem” que se posicionaram contra os meninos. Basta que um pequeno grupo infiltrado à turba crie tumulto, para que o “estouro do rebanho” transforme em caos a pequena desordem pretendida por adolescentes, apenas dispostos a transgredir um pouco as normas de locais onde se sentem marginalizados.
Penso que, assim como nas manifestações do ano passado, a tendência é este movimento perder força. Sabe como é. A massa cansa da rotina e muitos ali (ou seus pais) começarão a temer as consequencias de sua participação, pois os verdadeiros bandidos, os que querem se aproveitar da situação para promover o quebra-quebra e furtos, estarão sempre prontos para pegar uma caroninha no lombo desses bois, digo, boys. E girls.
Até lá, compro os presentes pela internet e a arte, vejo depois, num museu.
Queria mesmo é ver essa moçada dando rolé em centro cultural. Daí, ó! Botava fé!

 
Texto publicado em minha coluna semanal do jornal Alô Brasília, em 24/01/2014.
Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 24/01/2014


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