Tantos Poréns
Nunca faça graça de graça. Você é humorista, não político.
Jô Soares
Hoje, queria só falar de coisa boa. Segunda semana de férias, curti bastante meus cachorros, já é quase primavera, o frio acabou, a chuva chegou e as cigarras dão o ar de sua graça.
Porém, e sempre tem um porém, a cigarra era solista e apareceu morta no quintal, silenciando a cantoria. No seu lugar, serralheiros desafinam um esmeril no terreno do vizinho. A primavera traz um calor infernal e as chuvas que mal chegaram, já provocaram pane na CEB, na Sky e no trânsito candango, instituições feitas de açúcar, derretem quando molhadas.
Tem mais. As férias são de apenas duas semanas. Segunda, volto ao batente, embora batente mesmo tenha enfrentado por aqui, desde que o jardineiro pediu as contas, porque chamei a atenção dele, de novo, por passar o dia inteiro molhando grama. A conta chegou ontem – vou ter que ir à CAESB parcelar! Ainda bem que ele saiu. Mais um mês e eu falia!
Quanto aos cachorros, amo! Mas já tenho muitos. Com os que tenho, minha mãe ameaça me deserdar. Se arrumar mais um, ela me processa exigindo tudo o que gastou comigo, desde o primeiro leitinho.
Aí, terça-feira, me aparece um labrador perdido por aqui. Coleira, plaqueta de identificação... Fácil. Nada! A plaqueta estava em branco. O bicho ficou aqui, preso no canil. Em protesto, não parou de latir. Tudo bem, tô de férias! Dormir pra quê? Me consolava imaginando a alegria, quando o devolvesse à sua família. No dia seguinte, pelo Facebook, uma amiga me diz que viu um motoqueiro amarrando um cão igualzinho num poste, na quadra vizinha à minha. Abandono! Caramba! Era o que me faltava! Iniciei o processo básico de preparar o cachorro para adoção: agendei consulta, vacinas, castração e uma intenção na missa, para o marido não se apegar a ele, senão, já era. A maioria dos nossos está aqui porque esqueci deste detalhe. Minha mãe me mata! Felizmente, o tutor do peludo apareceu e ele voltou pra casa. Porém, mais um porém... E o outro cachorro? O amarrado? Estará bem?
Desisto de escrever coisas boas, com tantos poréns. Fiquei foi de mau humor.
TPM?
Não! Meu problema também tem três letras, mas é outro: STF.
Texto publicado na edição de 20/09/2013, do jornal Alô Brasília.
Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 20/09/2013
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