Sobre Leitura e Beleza
Em geral, se confunde a compra de livros
com a apropriação de seu conteúdo.
Schopenhauer
Li há uns tempos uma frase que dizia mais ou menos assim: “a mulher será mais bela (ou era elegante?) quanto mais livros tiver no armário”. Procurei muito, para trazer a citação até aqui, mas não a encontrei mais. Porém, o recado é claro: livros, mais do que roupas, definem a beleza de uma mulher. E homem, claro!
Concordo que a leitura pode nos fazer pessoas melhores, não necessariamente mais belas ou elegantes, mas discordo quanto à necessidade de ter os livros. Livro em estante só serve para juntar pó. Depois de lidos, prefiro fazê-los circular, doando para amigos, bibliotecas, bazares beneficentes. Faço isso até com os autografados, dos quais guardo, com carinho, uma foto da capa e do autógrafo, mas me recuso a ficar amealhando-os como um avarento às suas moedas. Como escritora, odiaria saber que uma velha estante será o destino de minhas palavras. Para se ter uma ideia, prefiro mesmo supor que meus textos neste jornal serão usados - depois de lidos, tá?! - para forrar o banheiro do cãozinho no apartamento. Pelo menos, terão lá a sua utilidade.
Tem gente que gosta de conservar seus livros pelo hábito de relê-los. Eu, que mal tenho tempo para lê-los da primeira vez, se precisar recuperá-los volto à biblioteca onde os deixei. Aliás, quando menina, sem verba para gastar com livros, renovava o cartãozinho da biblioteca duas, três vezes ao ano. Não creio que eu seria mais bonita se tivesse guardados, até hoje, todos os livros que li, embora, certamente, seria mais vazia se não os tivesse lido.
Enfim, gostei da frase e de como ela atinge seu público, embora discorde dela em sua literalidade: ler ou possuir livros não deixará ninguém mais bonito.
Porém, algumas leituras podem me deixar mais feia. É quando, por exemplo, encontro estampada na primeira página do jornal, a notícia de que a Câmara dos Deputados, em votação secreta, absolveu Natan Donadon que, embora condenado pelo STF pelos crimes de peculato e formação de quadrilha, manterá seu mandato. É o Brasil à frente de seu tempo, o único país no mundo que tem um deputado presidiário. Dá pra ficar linda com uma careta dessas?
Concordo que a leitura pode nos fazer pessoas melhores, não necessariamente mais belas ou elegantes, mas discordo quanto à necessidade de ter os livros. Livro em estante só serve para juntar pó. Depois de lidos, prefiro fazê-los circular, doando para amigos, bibliotecas, bazares beneficentes. Faço isso até com os autografados, dos quais guardo, com carinho, uma foto da capa e do autógrafo, mas me recuso a ficar amealhando-os como um avarento às suas moedas. Como escritora, odiaria saber que uma velha estante será o destino de minhas palavras. Para se ter uma ideia, prefiro mesmo supor que meus textos neste jornal serão usados - depois de lidos, tá?! - para forrar o banheiro do cãozinho no apartamento. Pelo menos, terão lá a sua utilidade.
Tem gente que gosta de conservar seus livros pelo hábito de relê-los. Eu, que mal tenho tempo para lê-los da primeira vez, se precisar recuperá-los volto à biblioteca onde os deixei. Aliás, quando menina, sem verba para gastar com livros, renovava o cartãozinho da biblioteca duas, três vezes ao ano. Não creio que eu seria mais bonita se tivesse guardados, até hoje, todos os livros que li, embora, certamente, seria mais vazia se não os tivesse lido.
Enfim, gostei da frase e de como ela atinge seu público, embora discorde dela em sua literalidade: ler ou possuir livros não deixará ninguém mais bonito.
Porém, algumas leituras podem me deixar mais feia. É quando, por exemplo, encontro estampada na primeira página do jornal, a notícia de que a Câmara dos Deputados, em votação secreta, absolveu Natan Donadon que, embora condenado pelo STF pelos crimes de peculato e formação de quadrilha, manterá seu mandato. É o Brasil à frente de seu tempo, o único país no mundo que tem um deputado presidiário. Dá pra ficar linda com uma careta dessas?
Texto publicado na edição de 30/08/2013 no jornal Alô Brasília.
Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 30/08/2013
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