Textos



O Jovem de Outrora


A velhice é uma tirania que proíbe, sob pena de morte, todos os prazeres da juventude. François La Rochefoucauld

Mais de 40 anos e se achava um garotão. Só andava na moda, com mulheres bem mais novas. Nós o apelidamos “jovem” quando ele comprou o conversível e saiu por aí, cabelo (pouco!) ao vento, paquerando menininhas (eu diria brotinhos, mas aí, deporia contra meu próprio ano de fabricação).
Um dia, parou no semáforo ao lado de um carro com duas moçoilas. Apoiou o cotovelo na porta e lançou-lhes seu olhar mais sedutor, apenas para ouvir uma delas alertar à outra, antes de arrancarem à abertura do sinal:
- Ih, véi! É velho!
Grande cara, o velho jovem! Meio tio Sukita, mas, figuraça!
Não é o único. Homens, em geral, têm dificuldade em crescer. Alguns, em especial, ano vai, década vem, e pensam nunca passar dos 30. Acham-se irresistíveis e, ao receberem um “não”, a moça é que tem problema.
De uns tempos pra cá, a mulherada aderiu à prática e não é raro ver balzacas atracadas com rapazinhos quase imberbes.
Fato: envelhecer não é legal. As engrenagens apresentam desgastes, surgem dores em órgãos que desconhecíamos, tem um monte de coisa que pára de funcionar, da memória aos tornozelos, passando, claro, pelo... intestino. Nas conversas de boteco, não se fala mais de balada e academia, mas de médico e fisioterapia.
Daí, que dizem que o consumo de "carnes tenras" rejuvenesce. Se não o fizer, há Botox, hormônios e Viagra para dar uma disfarçada na indisfarçável diferença de idade. Alheios ao que os invejosos chamam de ridículo, lobos e lobas seguem à caça.
Felizmente, para eles, há muito chapeuzinho vermelho chegado num vovozinho. Afinal, eles têm conteúdo - principalmente nas carteiras -, coisa que os moleques à sua volta ainda vão levar um bom tempo para conquistar.
Mas não é só isso. Li, recente que, apesar do desemprego, empresas vêm trazendo aposentados de volta à ativa, por sua experiência e qualificação. Deve ser por aí, a tal Panela Velha do Sérgio Reis. Talvez, a alguns jovens mais maduros, faltem opções entre seus pares (mais preocupados com seus XBox ou PS II) e só restem os coroas.
Ainda bem. Depois do tal fator previdenciário, os velhinhos precisavam mesmo de um consolo desses.




Texto publicado no jornal Alô Brasília de 17/05/2013.
 
Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 30/05/2013


Comentários