Eureka!!
É por isso que eu adoro o meu GPS. Não importa o problema que eu esteja enfrentando, ele sempre me diz: "Siga em frente."
Estudava com uma amiga quando o sono me venceu. Bocejei e anunciei:
- Vou dormir!
Ela, olhos vermelhos, perguntou:
- Acha que tá preparada?
- Não sei. Mas, pra mim, deu!
- Vai lá. Vou ler um pouco mais.
Joguei-me na cama, apagando imediatamente em sono agitado.
Meia hora depois, levantei-me de um pulo, gritando, feliz:
- Eureka! Eureka! A integral indefinida é 3!
Ela olhou para mim, assustada. Em seguida, caiu na gargalhada.
Então, o poço de tranqüilidade que eu fingia ser, afinal, colapsava diante de um prova?
Ainda atordoada do sono interrompido por meu próprio grito, não entendi qual era a graça! Afinal, eu acabara de descobrir o valor da integral! Não era para isso que estávamos estudando?
Não, não era! À medida que a lucidez ia retornando, caí eu mesma na gargalhada.
Afinal, eu nunca soube calcular uma integral e a prova que faríamos dali a algumas horas era, tão somente, de português.
Meu irmão, o doutor em psicologia comportamental, Carlos Augusto de Medeiros, explica que este é um fenômeno comum. Após horas lutando contra um problema, muitas vezes a solução surge do nada, quando o deixamos de lado por algum tempo. O termo técnico é insight, bem ilustrado pela lâmpada acesa sobre a cabeça do professor Pardal.
Só eu mesma para aproveitar esse período - "encubação", na psicologia Gestalt - para encontrar a solução de um problema que eu não tinha, enquanto a prova do dia seguinte foi um fiasco!
Porém, tirando este fato, é alentador saber que nosso cérebro tem esse recurso Microsoftiano de funcionar melhor depois de uma desligadinha.
Paciência é virtude rara e há problemas que não admitem tamanha calma. Mas, muitas vezes, nos descabelamos em ansiedade por coisas que o tempo se encarregará de solucionar: a aprovação no concurso, o amor de véu e grinalda, a gravidez que não vinga, a menstruação que não desce... O corpo não suporta a pressão, acaba nos sabotando e tudo fica ainda mais difícil. Melhor mesmo desligar, relaxar, dormir. E, talvez, acordar feliz gritando eureka.
Só espero que seja pela solução do seu problema e não com o valor de uma inexplicável integral.
Texto publicado no jornal Alô Brasília em 28/09/2012, tendo por motivação o texto homônimo publicado neste Recanto em 23/01/2009.