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Preciso Tomar Juízo


 
Doses de paixão podem afetar o organismo. Às vezes é preciso tomar soro, tomar coragem, tomar juízo. Só não sei dizer se a paixão é um veneno ou um antídoto.
(Alessandro Igor)

Cheguei a uma conclusão: eu preciso tomar juízo.
Já sei que o gosto é ruim: meio amargo, meio azedo, tem algo assim de renúncia e um quê de decepção, mas com gelo e bastante açúcar até que dá para encarar.
Dizem que fica bom mesmo é com vodca, mel e limão. Aí, eu já não acredito: acho que álcool e juízo não combinam muito bem.
De qualquer modo, não é o paladar que vai me demover desta decisão: preciso mesmo tomar juízo!
Saí para comprar. Procurei nas farmácias, supermercados e bares. Não achei. Que loucura! Parece que o juízo anda em falta no mercado. Achei fácil a tal da incompreensão, de gosto mais palatável, mas que só atrapalha. Vou tentar na Internet, Mercado Livre, talvez, nem que seja só um pouquinho, já em vias de vencer.
Se você souber onde tem, me avise por favor.
Em troca lhe dou a receita da poção de desamar que serve para esquecer a pessoa que partiu seu coração.
Claro que posso dar a receita antes, mas não vai adiantar: um dos ingredientes é, justamente, o danado do juízo.
Ah! E vale fazer um alerta: a beberagem tem um grave efeito colateral. Depois de beber tudinho, vê-se o mundo meio sem brilho, as cores perdem a cor. Sabores então, nem se fala, tudo é sopa de hospital.
É que o amor é essa magia que enche a vida de vida. Às vezes dói, machuca, maltrata, mas sem ele, vem um tipo de apatia, de preguiça de viver.
É claro que tem solução: basta encontrar outro amor. Não é fácil. Da marca Sincero, então, é mais difícil que o juízo. Procure com muito jeitinho, revire as prateleiras, os fundos das geladeiras, debaixo da pilha de frutas, mas vale a pena tentar.
Se encontrar, não pechinche. Pague o preço pedido, valerá cada centavo. Use sem moderação que o mundo volta a sorrir.
Este sim, cai bem com vinho, que faz pouca diferença, porque os amantes já andam ébrios da felicidade mais plena.
Mas, cuidado! Por via das dúvidas, tenha sempre à mão uma garrafinha de juízo. De vez em quando vá lá e dê uma boa golada. Porque o amor colore tudo, traz magia à sua vida, mas sem o amargo da razão para temperar o caldo, logo vai precisar, de novo, da poção de desamar.




Crônica publicada no Jornal Alô Brasília em 31/08/2012, e reeditado do texto Juízo, publicado neste Recanto em 13/04/2009.

Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 09/01/2013
Alterado em 25/01/2013


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