Vida Nova para Lucas Bittencourt
Ser pai de uma criança especial é como se preparar para conhecer a Itália, e, de repente, desembarcar na Holanda. E, então, perceber que a Holanda também é um grande destino. (adaptado de Emily Perl Kingsley)
Há onze anos, você era apenas um sonho bom, enchendo qual lua o ventre de sua mãe. Tudo corria bem, mas complicações no final da gestação precipitaram sua chegada que, devido a uma série de erros médicos, foi traumática para o seu pequenino corpo.
A partir daí, você seria uma criança especial, exigindo muitos cuidados. Os doutores que lhe acompanhavam apressaram-se em desenganar seus pais, duvidando da sua sobrevivência. Ao invés de desanimarem, os dois lutaram bravamente por você. Não só para que você sobrevivesse, mas para que vivesse da forma mais plena possível dentro das suas limitações, que eles aprenderam a respeitar, sem nunca desistir de superar.
Claro que eles sofreram e se angustiaram! Pois se sofre e se angustia o pai de qualquer criança diante de febres e arranhões, que dirá os seus, para quem uma simples falta de energia era motivo de pânico, pois dela dependiam os equipamentos que lhe mantêm vivo? Porém, mais do que isso, eles se alegraram. Cada pequena vitória sua, cada mínimo êxito era motivo de comemoração. E, entre festas e aflições, o tempo foi passando.
Há cerca de sete meses, eles souberam que um pequeno aparelho poderia substituir toda a parafernália que lhe obriga à reclusão. E, novamente, esses guerreiros admiráveis moveram mundos, fundos e milhares de pessoas nas redes sociais para lhe proporcionar essa nova chance de uma vida mais normal. Foram aos tribunais, à imprensa, às TVs e enfim, conseguiram. A cirurgia de pouco mais de R$ 500 mil foi realizada no dia 01/12, à custa de um GDF que tentou esquivar-se ao máximo da sua obrigação de garantir saúde ao contribuinte.
Que felicidade! Você já voltou para casa e tudo indica que logo estará livre do respirador. Além disso, sua história abriu caminhos e outras crianças como você serão beneficiadas também.
Nós, que acompanhamos de perto essa batalha, desejamos que seja ainda mais plena esta nova fase da sua vida.
E que o governo nunca mais se negue à responsabilidade de zelar por todas as crianças (mesmo as que não têm pais como os seus) desde quando elas são, ainda, apenas sonhos bons.
Crônica publicada no Jornal Alô Brasília em 07/12/2012.