O Palhaço Carequinha
''O dinheiro não é só facilmente dobrável como dobra facilmente qualquer um..'' (Millôr Fernandes)
A extinta TV Tupi estreou, em 1951, “Circo Bombril”. O programa de auditório era apresentado pelo palhaço Carequinha, que encantava a todos com suas brincadeiras ingênuas e musiquinhas politicamente corretas. A mais famosa dizia que o Papai do Céu protege o bom menino, que não faz pipi na cama, nem malcriação, vai sempre à escola, aprende a lição, respeita os mais velhos e não bate na irmãzinha.
Faltaram aí, umas coisinhas para que o bom menino crescesse e virasse um homem bom, artigo raro hoje em dia e, ainda mais, nos bastidores e/ou holofotes da política nacional.
O palhaço Carequinha de hoje até tentou posar de bom menino, denunciando e combatendo a corrupção. A fama de homem bom e aguerrido combatente do mal veio de quando foi procurador no Estado de Goiás, onde denunciava quadrilhas como a do amigo, Carlinhos Cachoeira. Desmascarado, nesta quarta-feira ele foi cassado por um plenário lotado e pesaroso. Seria bom se esse pesar fosse uma coletiva tomada de vergonha na cara, mas estava mais para o pátio de um colégio interno onde um aluno é repreendido por fazer pipi na cama e quase todos os colegas que assistem à espinafrada escondem as próprias caminhas mijadas.
Conquanto ele não tenha mais moral para acusar quem quer que seja, Demóstenes agora deve retornar ao MP goiano, onde trabalhará com o irmão Benedito, também investigado por envolvimento com o bicheiro mais famoso do País.
Sem cair na tentação clichê de dizer que, neste circo, os palhaços somos nós, penso que fui até legal com ele, ao compará-lo com o Carequinha de nossas infâncias. Ele mesmo usou uma metáfora, embora grotesca, muito mais fiel, quando disse sentir-se como uma mulher que, sem chance de defesa, carrega a pecha de vagabunda.
Aí, concordo com César, que argumentou ao divorciar-se de sua esposa: “À mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta.” Pompéia errou, apenas por dar margem a suspeitas. E o que dizer do próprio César?
Vagabunda por vagabunda, sou mais as prostitutas que só vendem o próprio corpo, enquanto os carequinhas de agora vendem mesmo é o futuro do nosso País.
Crônica publicada no Jornal Alô Brasília em
13/07/2012.