Depilação e Outras Torturas
As feias que me desculpem, mas beleza é fundamental. (Vinícius de Moraes)
Mulher é bicho besta, né? Para ficar mais elegante, bonita e atraente para seu homem e, se possível, para os homens em geral, faz qualquer negócio, incluindo investimento financeiro, perda de tempo e, muito, muito sofrimento.Se a coisa evoluiu por um lado, pois agora já não usamos mais espartilhos, daqueles que fazem a coitada desmaiar por afasia, por outro, ainda usamos sapatos de salto alto e bico fino, por exemplo. Pra mim, um martírio, com meus pés de pato. Assumo. Não são pezinhos delicados que se encaixam em qualquer scarpin.
E a tal da depilação? Aquilo é criação do capeta, tenho certeza disso! Primeiro, aplica-se cera quente.
- Bobagem! Nem tá tão quente, assim! - dizia dona Ana, enquanto eu me perguntava de onde vinha aquele cheiro de porco assado com molho de caramelo.
Ela grudava uns paninhos em cima daquele melado para, em seguida, arrancá-los, furiosamente, extirpando tufos de pelos e pele.
- Anestesia geral, por favor! - eu implorava.
E ela ria! Sabe-se lá de quê...
Alguns anos e muitas camadas de pele mais tarde, li numa entrevista, um galã da TV dizendo que não gostava muito da mulher depilada, preferia os pelinhos dourados na pele bronzeada. Adorei! Passei a colorir e aparar os pelos e tomar mais sol, num processo que pode até acelerar a alforria dos radicais, mas é absolutamente indolor, prático e barato.
Só que, dizem as más línguas: mulher não se arruma para o homem, mas para outras mulheres. Recente, uma amiga sugeriu dar um trato na sobrancelha.
- Sua aparência vai mudar muito! Vai ficar mais jovem, com o rosto mais iluminado!
Acreditei e, no salão, me sujeitei à algoz munida de pinça e maldade. Deus me livre! O que é aquilo? Dor! Oh, dor! Meus olhos se enchiam de água e a coisa não acabava nunca!
No dia seguinte, fui ao encontro da minha amiga sorrindo com a minha nova aparência, meu rosto muito mais jovem, mais iluminado. Ela sequer notou. Nem, quando eu perguntei!!
Essa foi a gota d’água. Agora, me rebelei.
E decidi! Se der pra ficar bonita sem tortura, beleza!
Se não der, me perdoe o Vinícius, mas o meu bem-estar é que é fundamental.
Crônica publicada no Jornal Alô Brasília em
22/06/2012, e reeditado do texto homônimo, publicado neste Recanto em
22/04/2008.