Susto na Cachoeira
Um susto acontecido há mais de vinte anos e suas três lições muito atuais.
Topázio é um riozinho simpático, de águas muito limpas e frias, próximo à cidade de Cristalina/GO. Seu percurso acidentado por pedras, cânions, lagoinhas e corredeiras, oferece aventura e diversão, lugar perfeito para acampamentos. Há uns 20 anos, eu ia muito lá com amigos, jovens e duros como eu. Íamos de ônibus, desembarcávamos na rodovia e andávamos cerca de oito quilômetros, carregando toda aquela tralha nas costas, até a prainha onde armávamos as barracas. O lugar era selvagem, sem banheiros ou energia elétrica, mas esses luxos perdiam importância diante de tanta beleza. As noites, ao redor da fogueira, eram de muita conversa, cantoria e jogos.
Durante o dia, a programação incluía a descida pela trilha marginal ao rio, aproveitando cada uma de suas muitas atrações e, após o Grande Salto (7 metros), chegávamos à Panela do Diabo, um buraco por onde só se descia com rapel.
Um de nossos locais favoritos chamava-se “Parideira”. Era uma cachoeira que nos permitia entrar por trás da queda da água e, projetando-nos para frente, ser “paridos” numa grande piscina natural, pela força das águas em turbilhão.
E é aí que começa esta história: minha melhor amiga não sabia nadar e era louca para experimentar a brincadeira. Sugeri irmos juntas, de mãos dadas e eu a conduziria em segurança até a margem. Apesar de temerosa, ela gostou da ideia e lá fomos nós, esgueirando-nos pela parede de pedra. Posicionei-me, gritei “já” e apertei sua mão com força, pulando para frente. Ela entrou em pânico, tentou se soltar, mas só conseguiu quando já estava caindo. Quando voltei à tona, ela estava perto, debatendo-se, apavorada. Nadei até ela. Que burra eu fui! Descontrolada, na ânsia de não afundar, ela me agarrou e empurrou para baixo. Lutando, consegui emergir e pedir ajuda. Os amigos a soltaram de mim, quando eu já perdia o fôlego. Graças a Deus, foi só um susto, mas aprendemos três lições, que muito homem público desconhece: um pequeno erro pode ser fatal; no desespero, mesmo o seu melhor amigo vai acabar lhe afundando e, o principal: brincar com Cachoeira é muito, muito perigoso!
Crônica publicada no Jornal Alô Brasília em
05/05/2012.