Auto-retrato
Coisa difícil é fazer auto-retrato. Como é possível se ver sem as distorções provocadas pelo espelho, pela autocrítica, sempre tão mordaz, pelas comparações, muitas vezes injustas, pelas ilusões que acalentamos com carinho de mãe e que, ora nos aproximam, ora distanciam daquilo que é o nosso ideal do “eu”?
Como ser categórico se a luz varia, o humor afeta e referencial é um lugar que não existe? Como ser consistente se nossa avaliação pode ser tão fortemente abalada pelas opiniões alheias?
Se todo relacionamento tem altos e baixos, se a convivência é, sabidamente, uma das artes mais difíceis e que mesmo os amores mais sinceros e apaixonados, muitas vezes cedem lugar ao ciúme ou ao descaso, e se somos nossa mais perene companhia, é certo que não seria simples a tarefa da auto-tolerância. Consequentemente, quase impossível a da auto-definição.
Porém, ninguém mais adequado para isso do que nós mesmos, ninguém nos conhece tão profundamente, ninguém é capaz de enumerar cada uma das nossas qualidades e defeitos, cada pequena nuance de nossa personalidade, cada ínfimo detalhe, oculto até mesmo daqueles que mais pensam nos conhecer.
Talvez, justamente por isso, mesmo com todas as imperfeições, cores inexatas e voláteis, nenhum retrato nosso pode ser tão fiel quanto o auto-retrato.
E, foi justamente pensando nisso, que comecei a fazer o meu.
Agora, vai perdoando, se você discorda dele, se você acha que eu não tenho a aparência da Gisele Bündchen, o caráter de Abraham Lincoln, a bondade da Madre Teresa de Calcutá, a inteligência de Steve Jobs, a força silenciosa de Gandhi e o coração fiel e gentil de um cão. Sabe como é... Modéstia vai ser sempre um limitador para a fidedignidade da imagem que faço de mim mesma.
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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Auto-retrato
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