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A Princesa e Seu Castelo


- E aí? O que você acha?
Eu?? Casada há vinte anos, quando ainda se valorizavam coisas como virgindade e noivado, que sei eu sobre os relacionamentos fast-food de hoje?
Porém, ela insistiu, ansiosa, e eu caí na armadilha.
Com cinco irmãos, todos homens, e uma mãe pouco chegada a pieguices, tenho alguma intimidade com o universo masculino. Dei meus conselhos baseados no que sei do planeta testosterona.
Já a minha amiga parece ter sido criada numa torre, entre fadas e pôneis coloridos: bonita, estudada e independente, ela ainda espera um príncipe encantado. N
uma viagem a Brasília, conheceu um candidato à vaga  e, mal começaram a namorar, ela, que mora em Goiânia, já iniciou planos de mudar-se para cá. O cara sentiu a pressão e, claro, deu no pé. Passados vários meses, ele reaparece, saudoso. Encontram-se e, em seguida, ele embarca de férias para o sul, com retorno marcado para dali a três semanas. Poucos contatos acontecem nesse intervalo e, na data marcada para o retorno dele, ela lhe manda um torpedo, perguntando se chegou bem. Dois dias se passam, antes que o sujeito mande outro respondendo que sim e ponto. Como é!? Perdeu, playboy! Claro que disse a ela que o cara não queria nada, que só ligou porque achou o nome dela na agenda em um dia de tédio e que ela partisse para outra. Apesar da minha obsolescência no mercado da conquista amorosa, afirmo, convicta: homem, quando quer, vai atrás. Era assim na minha época, na da minha mãe, na da avó da vovó e, provavelmente, continuará sendo pelos séculos, amém.
Pra que fui ser tão sincera? Ela não gostou, ficou de mal.
Para meu consolo, meu irmão
 me deu razão e mais, doutor em psicologia comportamental pela UnB, ele ainda explicou: o que ela queria, era alguém com quem dividir suas fantasias e a quem culpar depois que elas se arrebentassem numa das muitas paredes de concreto do mundo real.
E eu, que me senti como quem é pego num tremendo contrapé, só posso ficar aqui, torcendo para estar errada e que ela, daqui a uns dias, esfregue na minha cara o anel de noivado digno de uma princesa. Porém, o que acho mesmo que vai acontecer é, em algum momento, ela perceber, que o melhor amigo é justamente aquele que se recusa a ser avalista de nossos castelos no ar.



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Este texto faz parte do Exercício Criativo - No Contrapé
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Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 23/04/2012
Alterado em 23/04/2012


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