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Tive Medo!!

- Ai, dona Zuleica, que susto que eu levei agora!

- O que foi??
- Eu peguei carona com um amigo do Roberto hoje.
- Ele mexeu com você?
- Não, dona Zuleica! Ele me deixou lá na W5.
- Ah! E aí?
- Aí, que eu passei em frente a uma casa e tinha um cachorrão, latindo bem bravo pra mim.
- Mas, tava solto?
- Não! Tava lá dentro do quintal!
- Já sei! Começou a latir de repente!
- Não!! Ele já tava latindo pra um casal que passou antes de mim.
- Então, não entendi seu susto!
- Claro! Não me deixa terminar de contar.
- Hum! Desculpa, mademoseile! Pode contar!
- Então! Ele estava latindo e eu fiquei olhando aquela bocona cheia de dentes...
- E a covardona ficou com medo de um cachorro preso atrás das grades?
- Ah! Dona Zuleica! Assim, eu não conto mais!
- Deixa de ser malcriada, Helena! Estou só brincando!
- Ô, dona Zuleica! Com essas coisas não se brinca!
- Que coisas, Helena?
- Eu acho que o bicho tinha parte com o Cão!
- Como é?
- Parte com o Cão!
- Fala alto, Helena! Por que está sussurrando?
- Tenho medo!
- Fala logo, mulher!
- Eu disse que ele tem parte com o Cão!!
- Ué! Claro que tem! Não era um cachorro? Provavelmente, todas as partes dele devem ser de cão.
- Ô, dona Zuleica! Não brinca com esses assuntos...
- Tá bem, Helena. Desculpa. Mas, me diga! Por que é que você acha isso?
- Ah, dona Zuleica! Ele ficou latindo e me seguindo pela grade. Foi quando eu vi...
- Viu?
- Ele era esquisito! A coluna era torta, uma perna não esticava direito... De repente, ele caiu sentado e começou a se arrastar com as patas da frente.
- Nossa! Pobrezinho!
- Que pobrezinho!? Ele não parava de latir! Depois, levantou de novo, todo troncho! Me deu uma coisa ruim no estômago, um embrulho! Saí correndo!
- Essa é boa! Queria ver, você correndo com esses saltões!
- Ô, dona Zuleica! Eu aqui, apavorada e você me zombando!
- De boba que é! Por acaso, não era um cachorro magrelo dourado?
- Era!!
- Ô, Helena!! É a Jully!
- Jully?
- É! Ela é cadeirante, mas está voltando a andar com a fisioterapia.
- É?
- Sim! Já encontrei a dona dela algumas vezes, nas minhas caminhadas com o Fido.
- Credo
- Por que “credo”?
- Ela é horrível!
- Helena! Ela é linda! Tem uma cara bonita, o pelo brilhoso. E é uma guerreira!
- Só se for dos infernos! Parece um daqueles monstrinhos de filme de terror!
- Helena!
- Sério, dona Zuleica! Parecia um calangão! Achei que ela ia subir pelas grades pra me pegar do outro lado.
- Bobagem, Helena. Temos que dar graças a Deus! Há algum tempo, um animal assim seria sacrificado...
- Não era melhor?
- Helena!! Imagina se fosse o Fido!
- Ah, não! O Fido, não!
- Viu? Se acontecer alguma coisa com ele e ele ficar desengonçado como a Jully, você vai deixar de gostar dele?
- Neeeeim!
- Então?
- Tá bom, dona Zuleica! Me convenceu!
- Que bom!
- Mas por aquela quadra eu não passo mais.
- Por que, Helena?
- Do jeito que ela é guerreira, qualquer hora, ela cria asas e voa por cima daquelas grades.
- Ô, Helena!




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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Um Susto
Saiba mais, conheça os outros textos:
http://encantodasletras.50webs.com/umsusto.htm

Até ontem à noite eu estava decidida a republicar esse texto:
http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/1412607, mas afinal, optei por escrever este, baseada em um fato real: a diarista do vizinho segredou à minha secretária o mal estar que sentia ao ver a Joly "fazendo a ronda", dentro do meu quintal.
Não tiro totalmente a razão, mas...
Confira vc mesmo:
http://www.youtube.com/watch?v=8IYOI2yOtvI
http://www.youtube.com/watch?v=BKU_dhjbDAw
Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 11/11/2011
Alterado em 11/11/2011


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