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Black Out

- Ué, Helena? Não tem comida?
- Ai, dona Zuleica. Como é que faz, sem energia?
- Sem energia?
- Pois é! Faltou luz a manhã inteira. Voltou inda agorinha. Já tirei umas coisinhas do freezer para descongelar.
- E você não consegue cozinhar sem energia?
- Nem! Não tem processador, mixer, liquidificador, batedeira..
- Mas e o fogão?
- Acendimento automático.
- E, claro, nós não temos uma caixa de fósforos em casa...
- Tinha. Mas, como não temos velas e hoje era dia de fazer lista de compras, usei os fósforos para iluminar as prateleiras da despensa para eu ver o que estava faltando.
- Que idéia, Helena!
- É... Péssima! Queimei as pontas dos dedos.
- Pelo menos, conseguiu fazer a lista?
- Quase. Olha aí.
- Mas que garranchada é essa Helena? A única coisa que eu consigo entender aqui é vela e fósforo.
- É que eu escrevi aqui no claro. O resto foi lá na despensa.
- Mas não dá para ler nada!
- Vai escrever no escuro com os dedos queimados, pra ver.
- Mas, Helena! Vai ter que fazer tudo de novo! Bom, deixa isso pra lá. Tô mais preocupada com o almoço dos meninos que já devem estar chegando da escola.
- Já, já eu descongelo essa lasanha e...
- Ah! Não! Caiu de novo!
- Puxa! É só chover mais forte que essa porcaria cai.
- Bom! Esquece o microondas. Vamos ligar pro restaurante.
- Com que telefone? É tudo sem fio, nenhum funciona sem energia. Pensa que eu já não tinha pensado nisso?
- Celular, ué!
- Oba!
- Vixe! Descarregado. Vou ter que pôr pra carregar primeiro. Cadê o seu?
- Ah! Essa é boa! Vê lá se euzinha, final de mês, vou ter crédito no celular ainda...
- Me dá, assim mesmo. Vou ligar pro Elísio a cobrar, pra ver se ele passa em algum lugar antes de vir pra casa.
- Duvido que ele atenda.
- Por quê?
- Chamada a cobrar de número estranho? Nunca!!
- Deixa eu tentar.
- Tó!
...
- Desligou na minha cara!
- Eu disse!
- É... Não vai ter jeito. Vou ter que ir ao restaurante.
- De escadas? Doze andares?
- Ai, meu joelho!
- Pois é. Pra baixo todo santo ajuda. Mas imagina a volta, carregando as sacolas.
- Mas que droga! A gente tinha que aprender a viver sem energia. Como a gente do campo consegue?
- Nunca teve. É fácil. Eu mesma só fui conhecer eletricidade já mocinha.
- Quer saber? Vamos descer. A gente encontra o Elísio e os meninos lá embaixo e já seguimos direto pro restaurante.
- Doze andares?
- Você mesma disse que pra baixo todo santo ajuda.
- Tá escuro...
- Bora, Helena!
- Ai, ai.
- Ai!
- Eita! Desculpa!
- Tudo bem...
- Ei!
- Opa! Parou sem avisar... Desculpa!
- Cuidado!
- Quantos faltam?
- Uns sete!
- Ainda!?
- Ufa!
- Ai!
- Ei! Agora não fui eu!
- Não, acho que eu tropecei na lixeira do vizinho.
- Deus do céu! Como deve ser ruim não enxergar.
- Opa! Terceiro já! Falta pouco!
- Como sabe?
- O Wolf, latindo.
- Ah!
- Afe!
- Ufa!
- Ufa!
- Chegamos!
- Não, Helena! Ainda falta um. Temos que ir até a garagem pra ver se eles não já chegaram.
- E como é que iam entrar? O portão automático não abre.
- Ah! Não! Aí abre! É só o porteiro soltar a travinha.
- Nessa chuva!? Tô pra ver seu Albano enfrentando uma chuva dessas.
- Ele derrete?
- Não... Mas é mooooole! Tem energia nenhuma.




Este texto faz parte do Exercício Criativo - Eletricidade
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Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 21/10/2011
Alterado em 21/10/2011


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