Carta para uma Estilista
Londres, 6 de fevereiro de 2007
Querida Gabi,
Como você sabe, não é do meu feitio ficar fazendo rodeios, então, vou direto ao assunto: não posso mais usar as roupas que você desenha.
Hoje foi terrível. Me senti como se estivesse num daqueles desfiles esquisitos, onde varas-pau desengonçadas exibem a tal da moda conceitual. Conceitual! Essa é boa! O único conceito que me vem à mente quando penso naquilo é “horroroso”.
Não é que eu não goste dos seus modelos, meu amor... É que o meio em que vivo não é assim aberto a invencionices. Pois se até com o meu corte de cabelo eles já implicaram! Eu sei, eu sei. Foi cretinice deles e depois teve até uns que imitaram... Mas, não dá para ficar circulando por aí como se fosse um manequim na vitrine da Vanguardians, entende? Não posso dar pretexto para essa gente invejosa que fica falando mal de mim...
Você me conhece... Qualquer dia desses perco a paciência e falo uns palavrões diante das câmeras para todos eles! É só continuarem me provocando. Você vai ver! Mas, até lá, querida, preciso evitar confrontos desnecessários... E, quanto a isso, as suas roupas não estão ajudando...
Hoje mesmo... Acho até que foi por causa delas que nosso desempenho foi tão pífio. Ninguém prestou atenção ao que eu dizia, hipnotizados por aquela fantasia de gorgonzola... Opa, desculpe! Hipnotizados por aquela camisa estampada, como se ela pudesse ganhar vida e sair por lá sozinha... Se bem, que, teria sido bom! Se ela saísse e nunca mais voltasse, quem sabe eu não ficaria tão desmoralizado. E depois, não se falou em outra coisa, nem mesmo na imprensa internacional. Veja bem, querida, quando é a Globo ou a Veja que falam, a gente nem dá bola, sabe que eles são mesmo partidários. Mas o mundo inteiro falou disso. Aí a coisa é mesmo séria!
Mas o pior mesmo foi ouvir dizerem que era melhor engolir o Zagallo, que afinal é gagá, mas não tinha aquela aparência de coisa estragada.
Por isso estou lhe escrevendo, meu amor...
De hoje em diante, quem escolhe minhas roupas é o Maradona!!
Beijo grande do seu pai que te ama muito,
Dunga
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Texto escrito para o 6° Desafio Literário da Câmara dos Deputados - Etapa 7.
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Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 23/03/2011
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